Nos últimos 20 anos, nenhum trimestre fica perto da violência do choque económico sofrido por Portugal no segundo trimestre deste ano, durante o período de confinamento. A pandemia Covid-19 e o combate a esta emergência de saúde pública foram os responsáveis por fechar empresas, colocar os consumidores trancados em casa e trazer uma enorme dose de incerteza em relação ao futuro. Segundo os dados divulgados esta manhã pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), o PIB afundou 16,5% em comparação com os mesmos meses de 2019.
O INE justifica a contração do PIB com um contributo muito negativo da procura interna. Isto é, um recuo muito grande do consumo das famílias e do investimento das empresas. Além disso, como as exportações caíram mais do que as importações – muito por culpa da crise no turismo -, a procura externa penalizou também a economia.
“Este resultado é explicado em larga medida pelo contributo negativo da procura interna para a variação
homóloga do PIB, que foi consideravelmente mais negativo que o observado no trimestre anterior, refletindo a expressiva contração do consumo privado e do Investimento”, pode ler-se no destaque do INE. “O contributo negativo da procura externa líquida também se acentuou no 2º trimestre, traduzindo a diminuição mais significativa das Exportações de Bens e Serviços que a observada nas Importações de Bens e Serviços devido em grande medida à quase interrupção do turismo de não residentes.”
Trata-se da maior quebra de sempre desde que o INE disponibiliza dados trimestrais. O recorde anterior pertencia ao quarto trimestre de 2012. No pico da crise e na fase mais dura das medidas de austeridade, o PIB trimestral contraiu 4,5%. O resultado conhecido hoje é quase quatro vezes pior.
Recorde-se que o Governo espera uma recessão de 6,9% este ano, mas essa é, de longe, a previsão mais otimista para a economia nacional. Comissão Europeia, Banco de Portugal e OCDE apontam para valores mais próximos dos 10%.
Dados compilados pelo FMI desde 1866 mostram que a recessão mais dura que Portugal já enfrentou ocorreu em 1928, quando a atividade económica recuou 9,7%. A confirmarem-se as expectativas das instituições internacionais, 2020 ficará na História como a pior crise dos últimos 150 anos. O gráfico em baixo utiliza as previsões do FMI (-8% em 2020 e crescimento de 5% em 2021)
Europa no vermelho
A economia portuguesa acompanha o resto da Europa nesta hemorragia económica. Segundo o Eurostat, a economia da zona euro recuou 15% no segundo trimestre, com Espanha a apresentar o pior resultado (-22,1%), seguida por França (-19%) e Itália (-17,3%). Lituânia e Letónia tiveram as contrações menos violentas (-3,6% e – 9,6%, respetivamente). A atividade económica alemã, o motor da Europa, recuou 11,7%.