A crise provocada pela pandemia trouxe uma quebra de rendimentos significativa. Mas, apesar de em muitos casos haver menos dinheiro para gerir o orçamento familiar, o valor aplicado em depósitos acelerou para um máximo histórico. A incerteza sobre os estragos económicos que ainda poderão vir por aí levaram a um maior esforço de poupança. Só desde fevereiro até final de junho, o dinheiro guardado em depósitos bancários aumentou 6,89 mil milhões de euros para 157,5 mil milhões de euros, segundo dados do Banco de Portugal. É o valor mais alto de sempre.
A decisão de se por mais dinheiro de lado como precaução para estes tempos incertos é uma das possíveis explicações para este aumento do dinheiro aplicado em depósitos. Mas a tarefa de poupança também foi influenciada pela menor oferta de bens e serviços. “As famílias, em média, podem não ter gasto quer por opção, numa atitude defensiva precavendo-se num cenário de incerteza, quer por não ser mesmo possível gastar de acordo com o seu perfil de consumo com lojas e serviços fechados ou condicionados, viagens ao estrangeiro quase paralisadas e poucas atividades de férias para os filhos”, explica Filipe Garcia, economista da IMF.
Além da necessidade de se ter uma maior rede de segurança e da quebra do consumo, a moratória de crédito também pode estar a permitir que se aumente as reservas financeiras de emergência. O alívio temporário na despesa com os empréstimos destina-se a quem tenha visto o rendimento afetado por causa da crise provocada pela pandemia. Mas num cenário de maior poupança e de menor consumo, Filipe Garcia observa que “ao não pagarem as prestações, as famílias ficaram com esse dinheiro nas suas contas, engrossando o volume global de depósitos”. Segundo os dados mais recentes do Banco de Portugal, relativos a final de maio, houve mais de 475 mil contratos de créditos a particulares que foram alvo de pedido de suspensão temporária do pagamento de prestações.
A incerteza que paira sobre a economia e sobre os rendimentos de empresas e particulares é grande. Assim, salienta Filipe Garcia, “seria prudente que as famílias reforçassem a sua poupança, diante de um cenário económico que pode colocar em perigo muitos empregos”. No entanto, o economista ressalva que “há muitos casos em que nada sobre ao fim do mês e nessas situações falar em poupança pode até soar a um objetivo inalcançável”. E avisa que “será quando as moratórias terminarem que poderemos perceber melhor qual a condição financeira das famílias”.