A EDP anunciou o encerramento, antecipado em mais de dois anos, da central termoelétrica a carvão em Sines. O fecho, previsto para janeiro de 2021, é justificado pela menor competitividade desta tecnologia de produção de eletricidade e põe fim a 35 anos de atividade naquele polo industrial.
No comunicado enviado esta terça-feira, 14 de julho, à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), a EDP anuncia também o encerramento antecipado, para 2021, de outra central em Espanha, a unidade 3 de Soto de Ribera, que há mais de um ano que não produz energia. Sines também não produzia eletricidade desde 25 de janeiro e durante o primeiro semestre, refere a elétrica, as condições de mercado para estas centrais continuaram a degradar-se.
De acordo com a nota, o aumento dos custos das emissões de dióxido de carbono e os preços mais baixos do gás natural (e, consequentemente, da eletricidade obtida através deste) levaram a empresa a precipitar o fecho das duas centrais e a entregar esta terça-feira 14 de julho, a declaração de renúncia à licença de produção à Direção Geral de Energia e Geologia. O fecho de ambas as instalações terá um impacto de €100 milhões nas contas da empresa interinamente liderada por Miguel Stillwell de Andrade, estima a EDP. Já uma terceira central, a de Aboño nas Astúrias, Espanha, deverá ser convertida para gases siderúrgicos a partir de 2022.
O fecho de Sines estava aprazado, por indicação do Governo, para setembro de 2023, enquanto a outra central a carvão instalada no País, a do Pego, Abrantes, que é gerida pela Pegop, tem encerramento previsto para o final ano que vem, estando a ser estudada a sua reconversão. No início do ano, a imprensa regional avançava, citando responsáveis da central, a possibilidade de esta vir a funcionar com a queima de carvão vegetal. O uso de resíduos florestais e a produção de hidrogénio foram outras possibilidades estudadas localmente.
A EDP refere no comunicado que continuará a produzir eletricidade em Sines, com 1.180 MW de potência, até terminar de queimar o carvão em stock, e que iniciará depois o desmantelamento da central. E garante que vai respeitar os direitos laborais dos 107 trabalhadores e esperar que estes postos de trabalho possam ser reconvertidos ao abrigo do Fundo para a Transição Justa. Este instrumento comunitário, no valor de €40 mil milhões, pretende financiar o abandono da produção de energia através de combustíveis fósseis e, segundo noticiou o Eco em maio, poderá vir a reservar €465 milhões para Portugal.
Apesar do fecho das portas da central, a elétrica diz continuar atenta à possibilidade de continuar a produzir de energia em Sines, nomeadamente através do projeto em larga escala de hidrogénio verde que Portugal e os Países Baixos estão a prever instalar naquela zona industrial e portuária. “Enquadrada num plano de interesse comum europeu e com potencial de exportação por via marítima, esta alternativa em estudo para a produção de uma fonte de energia limpa, pode representar um novo ciclo para a região e para a economia nacional,” acrescenta no comunicado.
A verificar-se o descomissionamento e desmantelamento da central, como a EDP diz que ocorrerá assim que terminar o stock de carvão existente, poderá ficar sem efeito uma das possibilidades agregadas a este projeto de produção de hidrogénio verde e que tinha sido sugerida pelo Governo: a adaptação da central ao uso daquele gás renovável. “Ter uma central preparada em Sines para que, quando for necessário, poder usar hidrogénio para prestar serviço ao sistema, se isso for possível e viável e fizer sentido do ponto de vista económico financeiro, tem todo o interesse e a dona da central também terá e o país ficaria a ganhar com isso,” disse em janeiro à EXAME o secretário de Estado da Energia, João Galamba.