Passadas três fases de desconfinamento por causa da pandemia de Covid-19, os negócios em Portugal começam a respirar sem ajuda e já se aproximam do nível de faturação semanal que apresentavam no início de março, antes de ser decretado o Estado de Emergência que levaria o País a integrar o Grande Confinamento mundial que se viveu.
Dados da Reduniq revelam que, na primeira semana de junho, 85% dos pontos de venda voltaram a estar ativos no País e que a faturação global já representa mais de 80% dos valores registados na primeira semana de março, período que o relatório usa como referência para os níveis pré-pandemia em Portugal. Os cartões nacionais são os principais responsáveis pela retoma, numa altura em que “a faturação proveniente de cartões estrangeiros está nos 29%” em relação a março.
Os mesmos dados agregados pela Unicre, detentora da Reduniq, revelam ainda que após ser decretado o Estado de Emergência, e durante todo o período de análise – 1 de março a 6 de junho – o consumo feito por estrangeiros desapareceu de forma quase integral, ao afundar 85%. Já os portugueses estão praticamente no mesmo nível de consumo que antes: no 97 pontos, na comparação com a base 100 dos valores pré-pandemia (primeira semana de março).
Os distritos de menor dimensão, mais afastados do litoral – como Beja, Bragança ou Santarém – deram, segundo os dados revelados esta sexta-feira, sinais de relativa resiliência durante o período de confinamento, com os níveis de faturação média a manter-se nos 80% face ao início de março. São também eles que mostram mais sustentada capacidade de recuperação para níveis pré-pandemia. Comportamentos que podem ser explicados pelo facto de haver um elevado nível de emprego público em qualquer um destes distritos, também por terem “sistemas de mobilidade mais flexíveis e, finalmente, porque tendo sistemas de retalho maioritariamente alicerçados em grandes players de retalho moderno (retalho alimentar, tecnologia e eletrodomésticos, bricolage ou mesmo combustíveis) a rápida recuperação destes acelera a performance global”, explica o documento a que a EXAME teve acesso.
Do outro lado do espectro encontramos regiões como Lisboa ou a Região Autónoma da Madeira, que para além de terem registado quebras na faturação na ordem dos 60%, estão em dificuldades para conseguir recuperar. “Estes números são o reflexo do colapso do turismo, importante contribuidor líquido para os sistemas de retalho destes distritos (peso do Turismo no arranque de março: Faro 39%, Madeira 36% e Lisboa 19%)”, adiciona o documento.
Olhando para os dados relativos a Lisboa, é visível a consequência da falta de turistas: o peso da faturação estrangeira nos negócios cai de 18,7% para um mínimo de 5,2% entre 10 e 16 de maio, e mesmo na terceira fase do desconfinamento, na primeira semana de junho, não sobe acima dos 6%. No entanto, vale a pena referir que nos vários concelhos da região se registou uma ligeira subida do ticket médio, com a Amadora a liderar este crescimento: o ticket médio passou de €29,58 antes do Estado de Emergência, para €34,32 na última semana.
O mesmo aconteceu mais a norte, em Matosinhos, onde a faturação global já superou, aliás, o valor pré-pandemia, e onde o ticket médio subiu de €36,09 para €42,03. Por outro lado, no Porto a recuperação está a fazer-com dificuldade, com a faturação média a representar 68,69% dos valores pré Grande Confinamento.
Short hair, don’t care
Apesar de serem uma das faces mais visíveis da recuperação económica, não são os restaurantes (cuja faturação atingiu este final de semana os 91% dos valores médios anteriores ao Confinamento) quem mais se tem destacado em termos de crescimento: a faturação dos cabeleireiros não para de subir desde o final de abril, atingindo 150% face ao período pré-pandemia. E é líder destacado desta recuperação – logo com os acessórios automóveis e oficinas.
A saúde, as gasolineiras, as papelarias e a moda são os setores que lhes seguem, antes de aparecer a restauração, com uma subida considerável – e é preciso recordar que muitos dos estabelecimentos só começaram a abrir portas na segunda fase do desconfinamento, tendo sido dos mais afetados com esta travagem a fundo da economia. No entanto, aqui não se registaram alterações ao ticket médio, em termos de média semanal.
Entretanto, e por outro lado, retalho alimentar, os supermercados e os eletrodomésticos e tecnologias, por seu lado, foram dos setores que melhor resistiram aos tempos Confinamento – não só porque a vida passou a centrar-se em casa, mas porque eram os mais bem preparados para o consumo digital e entregas ao domicílio ou take-away. Sem quebras abruptas na faturação, são também dos que se mantêm mais estáveis agora que a engrenagem voltou a funcionar.
“Vivemos 6 semanas de consumos essenciais, estruturalmente depurados, centrados na vida em casa! Vivemos 6 semanas em que as performances dos vários setores se mantiveram, naturalmente, relativamente estáveis. Foram tempos de monotonia de consumo e de radical afastamento de espaços físicos”, lê-se na nota de análise da Reduniq.
É neste sentido que a hotelaria e as atividades turísticas têm sido das que mais dificuldades encontram para recuperar, numa altura em que têm que partir praticamente do zero, e com os níveis de insegurança a pesar no sentimento dos consumidores.
Seja como for, a reabertura de praticamente todos os pontos de venda, no País, denuncia que organizações e consumidores estão prontos para retomar, mesmo que de forma diferente a atividade económica.