É, eventualmente, o produto mais visível do projeto Open Air, criado por João Nascimento, o estudante de neurociências em Harvard, e o que mais talentos envolveu. O ventilador de emergência, que foi patenteado em nome da Humanidade, e cujo desenvolvimento envolveu investigadores de universidades, médicos, estudantes, engenheiros mecânicos que trabalham em Fórmula 1 e professores, está finalmente em fase de prototipagem. A informação foi confirmada à EXAME pelo fundador do Open Air e por António Grilo, da Unidade de Investigação em Engenharia Mecânica e Industrial da Universidade Nova de Lisboa e um dos autores do projeto.
“Estão a ser feitos 10 protótipos no LIP Coimbra, [onde o projeto é liderado por Paulo Fonte, um dos head of research da instituição] e outros 10 na Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade Nova de Lisboa”, explicou João Nascimento à EXAME. António Grilo confirmou que dois deles já estão prontos, um em cada instituição, e que daqui a três semanas esperam que os restantes estejam também concluídos.
Nascimento explicou ainda que cada uma das faculdades está a fazer protótipos diferentes porque estão a experimentar duas válvulas distintas: uma delas de gás e outra feita através de impressão 3D. O principal objetivo desta alternativa, explicou ainda João Nascimento, é que em cenários mais complexos, ou em países com menos possibilidades financeiras o ventilador de emergência possa, ainda assim, ser construído e montado. “No Malawi, por exemplo, o 3D pode ser uma solução”, adiantou ainda Nascimento antes de revelar que vão tentar certificar ambos os modelos no Infarmed.
O responsável do projeto falava à EXAME por ocasião do anúncio da integração do Open Air na Médicos do Mundo, que a partir de agora passa a ser a detentora de todos os produtos desenvolvidos através daquela plataforma. Na mesma altura, o fundador da Open Air falou ainda do desafio que foi juntar tantos especialistas de áreas diferentes para construir este projeto em particular.
Ainda hoje “tento perceber como foi possível juntar pessoas que estão habituadas a trabalhar em nano segundos, como na F1, e pessoas de research que estão habituadas a passar anos a fazer pesquisa…e como isso funcionou!”, atira com uma gargalhada antes de brincar com o facto de tudo ter sido feito com recurso a trabalho voluntário. “Ficamos é muito mal-habituados com isto, porque basicamente tivemos acesso aos melhores do mundo em troca de nada”, sublinha. “E uma coisa de que me apercebi é que quanto mais especialistas eram, mais humildes, também”.
E antes de concluir, deixa um desejo em jeito de pedido: “Talvez esta pandemia consiga trazer a ciência para um terreno mais palpável”, ajudar ao financiamento público e a um melhor diálogo entre academia e indústria.
Para já, o ventilador de emergência ainda é só um protótipo (ou dois, no caso). Mas o impacto que pode ter no mundo pode ser muito significativo. “Este ventilador, atualmente, é suficiente para estes casos específicos desta patologia específica e que, normalmente, tem este tratamento”. Não mais do que isso. Mas não menos, também, explicava em abril Pedro Pinheiro de Sousa à EXAME. O engenheiro mecânico, que esteve envolvido no projeto desde a fase inicial, salientava na ocasião que estavam a “tentar produzir algo extremamente simples, do ponto de vista da utilização, e barato, do ponto de vista financeiro. E estamos a tentar fazê-lo com o equipamento mais barato que conseguimos, para que tenha componentes que existem em praticamente todos os locais do mundo”.
Um objetivo que parece estar a ser cumprido, e que a Médicos do Mundo, a partir de agora, espera poder efetivamente concretizar.