À medida que nos preparamos para, como diz o Presidente da República, uma “transição progressiva” para retomarmos uma vida de maior normalidade, vale a pena olhar com atenção para o mercado da energia e, com maior foco, para o setor da mobilidade.
O shutdown global a que o mundo assistiu no último mês e meio foi o principal fator de queda drástica dos preços combustíveis de origem fóssil. A paragem completa de inúmeras indústrias e uma travagem abrupta das principais economias mundiais (aliadas a uma escalada de tensão entre diversos países produtores) levaram o preço de referência do barril de Brent a uma descida que ninguém poderia prever.
À medida que os valores do petróleo – e, por conseguinte, da gasolina e, para o que mais nos interessa, o gasóleo – começarem a aumentar, a agenda de uma economia mais verde vai, também ela ressurgir. As preocupações ambientais – e bem – virão com uma força renovada neste mundo pós-covid 19. A economia verde, circular, a sustentabilidade ambiental e a descarbonização ganharão um novo fôlego à medida que formos assistindo a um progressivo retomar das nossas sociedades e economias.
Se, no caso das commodities, na qual se inclui o petróleo, o impacto da volatilidade dos preços internacionais tem um delay nos preços de venda ao público que pode ser de vários meses – e, portanto, só o que for comprado agora poderá ser mais tarde vendido a preços significativamente mais reduzidos (o que sendo verdade na folha de excel, depois não sucede na prática, por este ser um mercado caracterizado por alguma rigidez no que respeita ao consumidor final – custos importantes na pluralidade de parcelas que são importantes na formação da estrutura de preços, imposições regulatórias, taxas e impostos muito elevados ajudam a explicar esta realidade), a verdade é que não vamos ter qualquer delay nas decisões dos empresários em procurarem soluções financeiramente mais vantajosas. E, claro, ambientalmente mais sustentáveis.
Pagar menos, com menor impacto ambiental, será possível com a adoção do Gás Natural Veicular, como solução. É uma solução de mobilidade eficiente, eficaz e sustentável que comprovou, durante esta pandemia, em Portugal, ser já uma solução fiável e com muito menor volatilidade e maior fiabilidade do que o combustível incumbente no que respeita, maioritariamente, ao transporte de mercadorias. Antes desta crise, os preços do Gás Natural utilizado na mobilidade terrestre situavam-se, em média, em valores 40% abaixo do gasóleo. Neste momento, apesar de a diferença se ter esbatido – e mesmo tendo em conta a queda que o Gás Natural teve nas praças internacionais – esta continua a ser substancial. Segundo dados da APETRO divulgados no início de abril, as vendas de combustíveis tradicionais estavam a cair 60% em termos homólogos face a idêntico período de 2019. As quebras nas vendas do Gás Natural foram muito inferiores a esta percentagem.
Ora, o Gás Natural Veicular (GNV) – que tem vindo a ser uma alternativa a que cada vez mais automobilistas recorrem – é, sobretudo, um combustível utilizado para o transporte de mercadorias e coletivo de passageiros. A muito menor quebra de vendas de GNV – pouco superior a 20% – torna evidente o importante papel que este combustível representa para economia e para o setor transportador, mesmo em tempos de crise.
Apesar da redução drástica do preço do Brent, o Gás Natural tem um posicionamento ágil de preço, fruto da organização a montante do mecanismo de formação internacional do preço, que permite acompanhar e, porventura, suplantar a paridade concorrencial face ao gasóleo. As empresas que optaram pelo Gás Natural como combustível alternativo tendo por base um racional económico, (autocarros de transporte público de passageiros, camiões de transporte pesado de mercadorias, furgões de distribuição last-mile, táxis e TVDE´s, etc.) têm hoje uma certeza: o GNV continua a ser economicamente mais vantajoso como opção na sua mobilidade, apesar da queda dos preços do gasóleo. E quando os preços internacionais destes combustíveis recuperarem, a diferença acentuar-se-á novamente, de forma ainda mais expressiva. Ora, isto faz do GNV a melhor solução de transição na mobilidade em direção a um futuro mais verde.
A mobilidade elétrica está na moda e continuará a fascinar consumidores pelo mundo fora – e também será importante enquanto energia de transição – mas para já, na mobilidade de veículos pesados, o GNV é, sem dúvida a melhor opção económica e a melhor escolha ambiental. É previsível que, após esta pandemia, haja uma explosão ao nível da investigação e desenvolvimento que permita inovar com soluções e produtos disruptivos e com enorme poder de transformação das nossas sociedades e economias.
“Regressar à normalidade”, nestes tempos, é uma expressão com um significado difícil de apreender, pois muito vai mudar neste nosso mundo e na forma como nos relacionamos. Há, contudo, uma certeza que tenho: o Gás Natural, sobretudo o de origem renovável – seja proveniente de biogás, seja proveniente da captura de carbono – desempenhará um papel da maior relevância no decurso do grande salto tecnológico em matéria de energia que o mundo, nos próximos anos, vai dar.