Não está fácil encontrar um entendimento entre os ministros das Finanças da Zona Euro sobre de que forma se poderá responder à crise económica causada pela pandemia. Após 16 horas de negociações, a teleconferência do Eurogrupo que se estendeu pela madrugada foi inconclusiva e as discussões serão retomadas esta quinta-feira. Ainda parece existir um continente de distância entre as soluções defendidas pelo ministro das Finanças italiano, Roberto Gualtieri, e o holandês Wopke Hoekstra, que já teve posições consideradas “repugnantes” por António Costa.
Após a reunião do Eurogrupo, o ministro das Finanças holandês disse que o encontro foi “intenso e também construtivo”. E reiterou que a “Holanda era e continua a ser contra a ideia de Eurobonds, pensamos que irão criar mais problemas que soluções para a UE. Teríamos de garantir as dívidas de outros países, o que não é razoável. A maioria do Eurogrupo partilha esta perspetiva”.
Esta posição da Holanda e de outros países esbarrou no pretendido por Itália. Confrontada com uma dívida já elevada, de 138% do PIB, o país quer uma solução que não implique uma subida descontrolada do seu endividamento de forma a ter margem orçamental para responder à crise da Covid-19 e relançar a economia. A alternativa à emissão conjunta de dívida por parte dos países da Zona Euro, passa pelo recurso a financiamento junto de um instrumento que já existe, o Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE).
O problema, para Itália e outros países do sul da Europa, é que aceder a essa solução implica submeterem-se a condições impostas pelas instituições europeias. Hoekstra concede que devido à atual crise, até se pode fazer uma exceção nessa regra. Mas apenas para cobrir custos médicos. “Para um apoio económico de longo prazo pensamos que é sensato combinar o uso do MEE com certas condições económicas”, indicou o ministro holandês. Isso faz relembrar as condições impostas pela troika a alguns países e o recurso ao MEE e é considerado inaceitável por Itália.
Os economistas do ING notam que apesar de nesta fase existir uma forte vontade política em permitir défices e dívida mais elevados, existe “o risco dessa vontade desaparecer assim que a crise terminar”. Nesse caso, realçam numa nota a investidores, “as regras orçamentais seria reestabelecidas, forçando os países mais endividados a seguir políticas de austeridade, alimentando ainda mais o populismo e o sentimento anti-europeu”.
França e Alemanha pedem entendimento
O presidente do Eurogrupo, Mário Centeno, considera que estamos perto de um acordo. E garante que o objetivo continua a ser alcançar “uma forte rede de segurança da UE para fazer face às consequências da Covid-19 (para proteger trabalhadores, empresas e países) e um compromisso para um considerável plano de recuperação”.
Essa estratégia deverá passar por três instrumentos: o recurso ao MEE, sendo que cada país pode pedir empréstimos de até 2% do seu PIB; linhas de crédito de 200 mil milhões de euros para as empresas lançadas pelo Banco Europeu de Investimento; e 100 mil milhões de euros para apoiar o emprego.
Mas as linhas vermelhas opostas de Hoekstra e Gualtieri sobre a condicionalidade no acesso ao MEE ameaçam a possibilidade de esse acordo ser atingido de forma tranquila. Para prevenir mais reuniões inconclusivas, os titulares das pastas das Finanças de Alemanha e França pedem aos seus colegas que sejam razoáveis. “Exortamos todos os estados europeus a enfrentar os desafios excecionais e a chegar a um acordo ambicioso”, defendeu o ministro gaulês, Bruno Le Maire. O alemão Olaf Scholz enviou uma mensagem semelhante.
O analista do Saxo Bank, John Hardy, realça que a falta de acordo não constitui ainda um “colapso” nas negociações. Mas as soluções que estão em cima, mesmo que tenham “uma magnitude significativa, falham em estabelecer um enquadramento mais permanente para nivelar as condições de financiamento na UE ou estabelecer um caminho em direção à mutualização da dívida”.