O comportamento de consumo dos portugueses tem registado alterações desde que o período de isolamento social começou, sensivelmente há três semanas. O online passou a ser o canal privilegiado para a aquisição de bens e serviços – embora na última semana já tenha havido um ligeiro aumento do recurso a lojas físicas – e as refeições em take-away ou home delivery viram a procura aumentar em 52% face à semana anterior ao primeiro caso de Covid-19 registado no País, mostram os dados da SIBS libertados esta terça-feira, 7 de abril.
Numa altura em que a grande maioria dos restaurantes nacionais fechou portas, e que o setor está a ser fortemente penalizado por esta pandemia, estas podem ser boas notícias para os estabelecimentos que têm feito um esforço para manter as portas abertas, adotando os serviços de take-away ou de entrega de refeições prontas ao domicílio. Importa ainda referir que este número pode ser superior, uma vez que as plataformas digitais, que permitem este acompanhamento, por norma não estão disponíveis fora das grandes cidades, onde os estabelecimentos comerciais também optaram por disponibilizar estes serviços.
Também nas redes sociais têm crescido os apelos para que, quem o pode fazer, continue a encomendar comida aos estabelecimentos – sobretudo aos mais pequenos – para fomentar a continuidade da atividade e a manutenção de postos de trabalho. Recorde-se que dados da AHRESP revelaram recentemente que cerca de um terço dos estabelecimentos (30%) dos setores da hotelaria e da restauração não foi capaz de pagar os ordenados aos seus trabalhadores. E a esmagadora maioria das empresas, cerca de 80%, antecipa que não venha a entrar qualquer dinheiro em caixa em abril e maio.
Na semana entre 30 de março e 5 de abril, o setor que mais viu as compras aumentar foi o de Entretenimento &Cultura, cuja procura disparou 64%, enquanto comércio alimentar & Retalho subiu 45%. No entanto, as compras em loja física têm vindo a recuperar após a quebra inicial. Subiram 6 pontos percentuais em relação à semana anterior. A organização reforça que desde que o País entrou neste ‘novo normal’, o comportamento dos consumidores tem-se mantido relativamente constante.
Adeus dinheiro, olá MB WAY
Com todos os avisos que têm sido feitos em relação à utilização de dinheiro, o MBWay tem vindo a ganhar espaço, com “tanto nas compras online como em loja, sendo de assinalar que, na semana de 30 de março a 5 de abril, o número de pagamentos com MB WAY no e-commerce superou a média registada antes da pandemia. Já comparativamente à semana anterior, de 23 a 29 de março, verificou-se um aumento de 23 pontos”, nota a instituição liderada por Madalena Cascais Tomé.
Nota ainda para o facto de o valor médio das compras online ter aumentado ligeiramente na última semana, de €37,5, que era a média antes da confirmação de casos de Covid-19 em Portugal, para €38,9.
As compras online, a diversificação da oferta de serviços por parte dos comerciantes e o regresso da possibilidade de venda itinerante têm-se revelado poderosos aliados da saúde pública e da economia numa altura em que ainda não é possível prever o regresso à normalidade.
Portugal entrou esta semana na terceira em estado de emergência, decretado por Marcelo Rebelo de Sousa e aprovado pelo Parlamento, numa altura em que estão infetadas 12 442 pessoas e mais de mil estão internadas devido à Covid-19. Com 345 mortos a lamentar, o País está, no entanto, a fazer um caminho bastante positivo no combate à doença, conseguindo atrasar o crescimento dos casos críticos, evitando o colapso dos serviços de saúde.
Na comparação com os pares europeus, aliás, Portugal tem sido um dos exemplos no combate à propagação do novo coronavírus, estando ao nível dos mais eficientes a controlar a epidemia. E com um comportamento bastante melhor que o de Espanha, França, Holanda ou Reino Unido. Com medidas mais apertadas para o tempo da Páscoa – estão proibidas deslocações entre concelhos e saídas de casa que não para o absolutamente fundamental – continua a ser imperativo o isolamento para conseguir manter a curva aplanada.