Empréstimos baratos que permitam aos bancos canalizar esse dinheiro para as empresas e um reforço nas compras de ativos. É este o plano inicial do Banco Central Europeu para mitigar os efeitos do novo coronavírus na economia da Zona Euro. A autoridade monetária liderada por Christine Lagarde anunciou esta quinta-feira operações de financiamento de longo prazo para os bancos com juros baixos e negativos. Vai intensificar também a compra de ativos, especialmente dívida de empresas e aliviar as exigências de capital para os bancos. Mas não fez alterações nas taxas diretoras (0% na taxa de referência e -0,50% na facilidade de depósito).
Na prática, o BCE admite pagar aos bancos para que estes mantenham o crédito às empresas afetadas pelo COVID-19. No novo programa de operações de refinanciamento de prazo alargado direcionados, os bancos poderão ir buscar dinheiro junto do banco central com um juro de 25 pontos base abaixo da taxa de referência, que está em 0%. Ou seja, poderão obter financiamento a um juro de -0,25%. Mas se os bancos mantiverem ou acelerarem o ritmo a que concedem crédito a empresas, a taxa dessas operações baixa para até 25 pontos base abaixo do juro cobrado pelo BCE na facilidade de depósito, que atualmente é de -0,50%. Caso os juros se mantenham neste nível, essas operações teriam assim um lucro para a banca, já que conseguiriam financiamento com uma taxa de -0,75%.
Para obterem financiamento do BCE, os bancos têm de apresentar garantias. Mas o banco central garante que vai diminuir o nível da exigência dos colaterais que terão de ser apresentados. Estes financiamentos poderão ser feitos entre junho de 2020 a junho de 2021. Mas, até ao início desse programa, o BCE vai fazer mais operações de refinanciamento com juros negativos para garantir que há liquidez adequada no sistema financeiro para apoiar a economia.
Mais compras de ativos
O Banco Central Europeu decidiu também reforçar a atuação nos mercados de dívida. Apesar de estar já a fazer compras líquidas de 20 mil milhões de euros por mês, anunciou um reforço desses programas com “um envelope temporário de compras líquidas adicionais de 120 mil milhões de euros até final do ano”. O banco central indicou que este poder de fogo adicional será direcionado sobretudo para a compra de obrigações de empresas. “Em combinação com o programa de compra de ativos já existente, isto irá apoiar as condições financeiras favoráveis para a economia real em tempos de elevada incerteza”, refere o comunicado do banco central.
Após ser conhecido o plano do BCE, os economistas da Capital Economics até reconheceram que as medidas anunciadas são “substanciais”. Mas realçam, numa nota a que a EXAME teve acesso, que estas ações têm um efeito limitado para prevenir a quebra da economia. “O que importa para a economia é a evolução do vírus e as medidas que as autoridades de cada país irão tomar para o conter”.
O plano do BCE chega numa fase em que a Comissão Europeia e vários países europeus anunciaram planos de estímulo económico para fazer face aos custos provocados pelo coronavírus. Mas os especialistas da Capital Economics sublinham que “o máximo que se pode atingir através da política económica é suavizar o impacto e prevenir que a desaceleração da economia se transforme numa crise no setor financeiro ou na dívida soberana”.
Alívio nas exigências de capital dos bancos
Além das medidas de política monetária, o BCE, que é também o supervisor do setor, anunciou que irá flexibilizar as exigências de capital à banca. “O coronavírus está a provar ser um choque significativo para as nossas economias. Os bancos precisam de estar numa posição em que continuem a financiar as famílias e as empresas que passam por dificuldades temporárias”, explicou, em comunicado, Andrea Enria, presidente do conselho de supervisão do BCE.
Nos últimos anos, além dos rácios de capital mínimos, o BCE forçou a banca a construir almofadas de capital adicionais para que pudessem ser utilizadas em tempos de crise. Agora, vai permitir que temporariamente a banca possa operar abaixo dessas exigências adicionais de forma a que os bancos possam apoiar a economia. Mas deixa o aviso: “Espera-se que os bancos usem os efeitos positivo destas medidas para apoiar a economia e não para aumentarem a distribuição de dividendos ou a remuneração variável”.