A empresa de joalharia De Grisogono, sediada na Suíça e parcialmente detida por Sindika Dokolo, marido da empresária angolana Isabel dos Santos, pediu esta quarta-feira a proteção de credores junto das autoridades suíças, depois de terem falhado as negociações para encontrar um novo proprietário, avançou a Bloomberg. Estão em causa 65 postos de trabalho naquele país.
“Há vários meses que estava em curso um processo de venda da sociedade. Apesar de avanços consideráveis, não se chegou a acordo para a transação. Sem apoio financeiro dos atuais acionistas, e sem potenciais compradores, a solvabilidade da empresa está agora em causa, o que torna impossível a continuidade da atividade,” afirmou a empresa num comunicado citado pelo Tribune de Genève.
O jornal dá ainda conta de que a companhia deve mais de 1,4 milhões de francos aos seus fornecedores suíços (1,3 milhões de euros à cotação atual), nomeadamente relojoeiros subcontratantes dos cantões de Berna, Jura, Neuchâtel e Vaud, especialistas franceses de marketing digital e fornecedores israelitas de pedrarias.
A De Grisogono é uma das empresas no centro dos Luanda Leaks e das alegações das autoridades judiciais angolanas, que invocaram o investimento feito por Sindika Dokolo como uma das razões para a apreensão de contas e participações sociais do casal Dos Santos em Angola. Luanda alega que o ex-presidente angolano José Eduardo dos Santos comprou a De Grisogono para vender diamantes angolanos no estrangeiro e que a “ofereceu” à filha, Isabel dos Santos e ao marido, Sindika Dokolo.
Para tal, a empresa pública Sodiam e o Estado angolano teriam injetado 140 milhões de dólares na De Grisogono e na Victoria Holding, a firma criada entre o casal e a empresa pública. Isto, sustentam as autoridades, sem que o Estado tivesse poder de gestão ou recebesse dividendos. A estas dívidas somam-se prejuízos para o Estado que advêm de a compra dos diamantes à Sodiam ser feito a um “preço inferior ao de mercado,” referiu no final de dezembro o tribunal de Luanda.
A De Grisogono foi fundada em 1993 por um antigo administrador da Bulgari, Fawaz Gruosi. Em 2012, a Sodiam e o casal Dokolo/Dos Santos criaram uma empresa em Malta, a Victoria Holding Limited (detida a 50% pela Sodiam e a 50% pela Exem Mining BV, esta última alegadamente controlada pelo casal), para comprar uma participação na joalheira.
Em 2017, já com o novo presidente angolano João Lourenço em funções, a empresa estatal anunciou que estava vendedora da sua posição na De Grisogono “por razões de interesse público e legalidade.” No ano seguinte a empresa reduziu um terço dos seus efetivos devido a “excesso de capacidade de produção.” Na fábrica de Plan-les-Ouates, comuna do cantão de Genebra, ficam agora em causa 65 empregos na Suíça e 15 no estrangeiro com a entrada em insolvência.
Em 2016, a joalheira comprou o maior diamante encontrado em Angola, com 404,2 quilates e sete centímetros de comprimento. Mais tarde, já lapidado, foi vendido em leilão por 33,7 milhões de dólares