Foi com algum sentido de humor e com grande descontração que o professor Daniel Bessa mostrou otimismo sobre o futuro que nos aguarda. Apesar de prever que a Europa vai “entrar numa fase longa de pouco crescimento”, também não está à espera que a situação rebente. O exemplo do que aconteceu há anos no Japão foi atirado à plateia: “ Estamos muito perto da japonizacao da Europa. Um dia rebentou e nunca mais cresceu”.
Vinha isto a propósito do que se pode esperar para 2020, num contexto em que se verifica algum arrefecimento do comércio internacional. Mas Daniel Bessa não considera haver sinais de grande preocupação. “No início de 2019, a previsão era a de ser um ano difícil. No final, a economia aguentou-se”, disse. “Em 2020, o contexto é igualmente difícil, mas há a sensação de que talvez isto não se afunde. A meu ver bem.”
Daniel Bessa abriu a conferência das 1000 Maiores & Melhores PME, que decorre esta quarta-feira na Casa da Música, no Porto. Em conversa com Tiago Freire, diretor da EXAME, Daniel Bessa identificou alguns motivos de preocupação, como o Brexit ou a situação de Espanha, mas não valorizou o estado das relações entre os EUA e a China. “A Reserva Federal dos EUA até baixou as taxas de juro – a meu ver, mal, por ser demasiado cedo -, mas tal evidencia não haver sinal de grande colapso. Por isso, olhamos 2020 sem grande entusiasmo, mas também sem grande preocupação. Ficaria surpreendido se houvesse algum cataclismo”.
Já não pode dizer o mesmo quando olha para “o rácio entre preço/dividendos da ações”, pois estão “muito caras”. Uma situação em parte causada pela falta de alternativa ao que é hoje o financiamento dos mercados obrigacionistas. Não o surpreenderia, por isso, haver algum tipo de correção dos mercados no sentido da baixa.
Daniel Bessa acabou por elogiar o Governo português pela forma como conseguiu “por as contas públicas em ordem”. Justificou: “ Posso não gostar deles, mas tenho de louvar o trabalho que fizeram”, rematou.
Antes, já tinha brincado a relembrar a época em que o então primeiro-ministro José Sócrates defendia que a dívida não era para pagar. “ Fiz as contas e acho que tem razão. Com este saldo, precisaríamos de 500 e tal anos para pagar. Ora, assim pagar ou não pagar, não faz grande diferença”. A plateia riu. Mas o facto deste Governo ter terminado o ano com excedente orçamental “ é o passo que faltava” para dar segurança aos mercados e mostrar o “grau de responsabilidade” assumido. “O défice e a dívida são uma droga pesada. Criam dependência”, concluiu.