Há muitas incertezas sobre a economia global, como a guerra comercial entre os EUA e a China ou o quase infindável e imprevisível processo do Brexit. Mas, apesar do abrandamento da economia, João Pisco acredita que há razões para se ser otimista. “Não há motivos para temermos uma crise como a que tivemos em 2008”, afirmou o analista financeiro e de mercados do Bankinter Portugal numa análise feita na cerimónia de entrega de prémios das 500 Maiores & Melhores Empresas.
João Pisco explica que o “contexto é totalmente diferente” e que se deve refutar “as profecias da desgraça”. Apesar de realçar que “as recessões são imprevisíveis”, o analista do Bankinter enumera alguns factores que estiveram na origem desses maus tempos económicos no passado. “Há sempre alguma coisa que espoleta as recessões”, apontado o elevado nível de dívida com um crescimento insustentável e com um custo alto. João Pisco defende que “o custo da dívida é estruturalmente baixo, pelo que não vemos que estejam reunidas as condições que habitualmente provocam recessões”.
Esta leitura do analista do Bankinter está, no entanto, dependente do que bancos centrais como o BCE irão decidir sobre as taxas de juro. E, no caso da Zona Euro, João Pisco acredita que o mais provável “é existirem taxas de juro muito baixas durante muito tempo”. Explica que é “impensável o BCE fazer algo em termos de subidas de taxa de juro e o mais provável é continuar a reduzir as taxas de referência e de depósito. Não há como aumentar porque isso só iria agravar mais o abrandamento na Europa”.
O diagnóstico de João Pisco é que o estado atual de baixas taxas de juro e de crescimento anémico “vá durar muitos anos”, num processo de “japonização” da Europa. No entanto, o analista não descarta que possa acontecer no curto prazo “um abrandamento forte que leve a uma recessão técnica”. Mas faz a distinção entre o que podem alguns trimestres de crescimento negativo e o grau de destruição causado por uma crise como a que aconteceu há 11 anos. “Não há um risco elevado que uma crise como a de 2008 possa acontecer”, reitera. Para as empresas, o especialista do Bankinter considera que não existem motivos para se ter receio sobre uma futura recessão de forma a que isso leve a um adiamento de decisões de investimento.
Crescimento português com sinais de deterioração
A economia portuguesa tem recuperado terreno nos últimos anos. Mas o crescimento que o País conseguiu voltou a destapar o “calcanhar de Aquiles” da economia nacional: a dívida externa. João Pisco nota que o aumento do consumo e do investimento levou a uma subida das importações, o que cria desequilíbrios na balança comercial e acaba por provocar “uma deterioração do padrão de crescimento”.
O analista recorda que essa “foi a principal razão pela qual tanto sofremos com a crise. Os graves défices externos que tivemos de 2000 a 2010 levaram a uma situação complicada”. João Pisco realça que “é de valorizar o aumento do peso das exportações, mas não devemos esquecer os desequilíbrios que ainda temos de tratar”.
Numa altura em que o governo propõe que existam aumentos salariais de 2,7% no setor privado, João Pisco considera que subidas nas remunerações acima da produtividade “só iriam agravar mais o padrão a que estamos a assistir”. Travariam as exportações e aumentariam o consumo e, consequentemente, as importações. “Os aumentos salariais têm de estar em linha com a melhoria da produtividade”, defende.