Uma das muitas frases memoráveis de Jack Welch diz-nos: “Não se consegue gerir para o longo prazo se não se conseguir comer no curto prazo. Qualquer um consegue gerir no curto prazo, qualquer um consegue gerir no longo. O equilíbrio entre essas duas coisas é que é a gestão.”
Em ano de eleições legislativas, é impossível não pensarmos nestas questões.
As sondagens são relativamente claras, para já: uma vitória do Partido Socialista com ou sem maioria absoluta. O que deixa em aberto duas vias: uma governação sem maioria parlamentar, com negociações pontuais em dossiers concretos; e uma reedição de uma forma qualquer da Geringonça, naturalmente com um ou mais partidos da esquerda.
A democracia é isto, é o voto que manda, mas nenhum destes cenários parece promissor para inverter o rumo de reformas muito insuficientes que vivemos nos últimos anos.
Por razões ideológicas, eleitorais e históricas, a legislatura que agora termina foi orientada para o curto prazo, mas nem sequer se pode dizer que tenha sido orientada só para o presente. Foi orientada para o passado, tendo como prioridade um movimento de reposição de rendimentos cortados ou de reconstituição de uma situação que existiria se não tivesse havido a emergência financeira nacional. Neste contexto, talvez estejamos a ser demasiado ambiciosos pedindo um pensamento para o futuro. Mas é disso que precisamos.
Numa entrevista publicada na edição de Agosto da EXAME, Francisco Veloso, dean da Imperial College Business School, de Londres, fala também disto. De como o nosso raciocínio, por exemplo na Saúde, é sempre à volta de uma discussão incremental: precisamos de mais ou menos profissionais, mais ou menos financiamento. Ou seja, discutimos quantidades, não a forma como as coisas se fazem. E muito menos a forma como as coisas deveriam fazer-se e como terão de se fazer daqui a cinco ou dez anos. E, nesse prazo, quem acreditar que as questões fundamentais da Saúde se prenderão ainda com a discussão estafada das parcerias público-privadas não está de todo a ver a revolução tecnológica que o mundo irá viver.
Não é uma questão de escolha, é só uma questão de largarmos as querelas de mercearia e saber se conseguimos ou não abraçar o futuro, ou continuar presos em retóricas do século passado.
Como diz o professor Sarkar, num artigo de opinião publicado na mesma edição, na China já há um médico-robot a dar consultas e a passar receitas. Por cá, continuamos enredados, há mais de um ano, na discussão das 35 horas do setor público.
Há ainda muitos problemas para resolver, naturalmente, mas Portugal reclamou finalmente alguma da sua soberania decisória, à boleia da recuperação financeira. O que queremos fazer desta capacidade de fazer escolhas, deste verdadeiro luxo de vontade?