A acompanhar as mudanças trazidas pela revolução digital ao setor financeiro, também o perfil dos colaboradores está a mudar. A tal ponto que hoje já há instituições que dizem procurar perfis menos óbvios para funções antes altamente especializadas.
“Hoje não quero um licenciado em Economia e Gestão. Estou à procura de outras coisas. Se tiver um licenciado em arte com aptidão para o que se pretende, é o que eu quero,” argumenta Luís Castro e Almeida. O presidente do BBVA em Portugal, que esta quinta-feira esteve na conferência Portugal em EXAME, usou o exemplo para demonstrar a transformação feita na estrutura do banco espanhol, que transferiu responsabilidades para as funções mais afastadas da liderança.
“Eu só não estou no desemprego porque o regulador diz que tem de haver um CEO [no banco],” ilustrou. “Eu quero que a pirâmide seja virada ao contrário. E digo aos meus colaboradores: ‘A vossa missão é terem emprego lá fora. Se não tiverem emprego neste banco, não têm emprego lá fora.’”
No evento realizado no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, no qual também se comemoram os 30 anos da revista EXAME, o painel dedicado ao futuro da banca abordou também a relação das estruturas tradicionais com os novos players financeiros eminentemente tecnológicos, as fintech, que de concorrentes passaram a parceiros e potenciais alvos de aquisição.
“À medida que vamos pondo a cabeça de fora, os bancos começam a olhar para nós. Não vou dizer que a minha ambição não é ser comprado por um banco,” admite o CEO da Easypay. Embora reconheça que nem sempre o caminho da aquisição preserva a natureza inovadora e sofisticada dos serviços prestados por este tipo de empresas. “Algumas fintech compradas por bancos parece que levaram uma ‘injeção’. Chegaram lá dentro e ficaram iguais [aos bancos],” relata Sebastião Lencastre.
Luís Castro e Almeida reconhece que o interesse dos bancos nas fintech passa muitas vezes por captar valor em forma de conhecimento. “A única razão pela qual estamos em algumas fintech é para aprender. Muitas vezes uma fintech tem uma ideia boa e copiamos. É muito mais barato copiar do que comprar,” assume. Por outro lado que põe a tónica no open banking, a plataforma sobre a qual é possível a várias entidades prestarem serviços inovadores e personalizados aos clientes.
Neste capítulo, o CEO da Easypay antecipa que haverá uma pulverização destas empresas, ao passo que a banca tentará não perder a atividade transacional com o seu cliente. A empresa de pagamentos que em 2007 arrancou com 454 transações regista hoje mais de 5 milhões. E antecipa um comportamento forte para 2019: “Vamos crescer 100% este ano,” afirma Sebastião Lencastre.
“A banca em Portugal nunca teve crise”
Ainda com as situações da dificuldades no setor bancário da última década frescas na cabeça dos clientes – e dos contribuintes -, Luís Castro e Almeida recusou que se façam generalizações a todo o setor bancário de problemas que, diz, foram localizados.
“A banca em Portugal nunca teve crise. Há vários bancos em Portugal. O que aconteceu representava 80% do setor, mas isso não é a banca – são bancos.,” distinguiu. A generalização das más práticas, afirmou, “começa a ser cansativa para quem trabalha no setor. São sempre os mesmos nomes e as mesmas histórias, andamos sempre a bater na mesma tecla.”
O presidente do BBVA em Portugal alertou ainda que a digitalização pode, se não for feita de forma controlada, ser o “prego no caixão” ou o “monstro que mata” uma empresa. “Pode-se cair na moda da digitalização, colocar demasiadas coisas na aplicação e as pessoas deixarem de usar. Temos de por na app o que é rentável e o que a maior parte das pessoas quer usar,” disse.