Na passada quarta-feira, 12 de junho, o The Wall Street Journal publicava uma investigação dando conta da existência de vários emails que revelam que Mark Zuckerberg estaria familiarizado com práticas menos corretas do Facebook relativamente à segurança dos dados dos utilizadores. Nesse mesmo dia, Sheryl Sandberg, diretora de operações da empresa, entrou numa sala com 60 jornalistas de vários meios de comunicação social de todo o mundo – incluindo da VISÃO – mas preferiu ignorar o assunto, fazendo uma apresentação de cerca de 20 minutos, e respondendo a perguntas previamente selecionadas durante os 10 minutos seguintes.
“Creio que há preocupações muito reais sobre o tamanho e o poder das companhias tecnológicas, sobretudo nos EUA”, afirmaria quando questionada sobre um recente artigo de opinião do New York Times, assinado por um dos co-fundadores do Facebook, e incentivando à divisão da rede social. “A influência do Mark [Zuckerberg] é impressionante, muito além da de qualquer outra pessoa no setor privado ou no governo. Ele controla as três plataformas principais – Facebook, Instagram e WhatsApp – que milhares de milhões de pessoas usam todos os dias”, escreveu Chris Hughes. A peça salienta ainda o enorme crescimento da empresa, defendendo que ela deve ser dividida em várias, e a necessidade de regulação das gigantes da tecnologia.
“A questão é, qual é a resposta que vai garantir que estamos a aplicar o correto quadro regulatório? A política anti-monopólio [anti-trust] é efetivamente sobre proteção do consumidor, e sobre garantir que ele pode fazer uma escolha. E acho que se olharem bem para o que nós fazemos e para os nossos produtos, é muito claro que há imensa escolha”, acrescentaria Sandberg.
Durante a intervenção inicial, a diretora de operações do Facebook fez questão de agradecer a todos os jornalistas que estiveram presentes naquele que foi o 1.º Dia Internacional da Imprensa organizado pela companhia, em Menlo Park, na Califórnia. “O que vocês fazem é realmente importante. Vocês mantêm as pessoas informadas, e mantêm-nos responsabilizados”, atirou. No entanto, manteve-se rigidamente dentro do formato previamente acordado, e respondeu apenas a algumas perguntas que tinham sido enviadas na semana anterior, antes de as notícias sobre os já referidos emails serem publicadas. As mensagens de Zuckerberg terão sido descobertas no âmbito da investigação que está a ser levada a cabo pela Comissão Federal do Comércio (FTC na sigla em inglês) devido à utilização dos dados de 50 milhões de utilizadores por parte da Cambridge Analytica.
Sandberg fez questão de salientar a importância da crescente presença de mulheres nos meios tecnológicos, e garantiu que apesar de o Facebook poder ser viciante, tal como defendem alguns estudos publicados recentemente, estão a trabalhar “com equipas para garantir que o bem-estar mental dos utilizadores é conseguido através da alteração do algoritmo: queremos que as pessoas vejam conteúdo que lhes faz bem, como é o caso do que é partilhado pela sua família ou amigos próximos”, esclareceu. E foi praticamente tudo. No final, quando alguns jornalistas tentaram abordá-la para conseguir esclarecer que medidas estão a ser tomadas pelo Facebook para salvaguardar a segurança dos utilizadores – uma das questões que não sai de cima da mesa há cerca de dois anos – Sandberg colocou o auricular e, alegando falta de tempo, saiu da sala com o mesmo sorriso com que tinha entrado.
O máximo de informação que foi possível obter sobre o assunto, por parte de uma fonte oficial da companhia, foi um comunicado onde se lia o seguinte: “Temos colaborado totalmente com a investigação da FTC para disponibilizar milhares de documentos, emails e ficheiros. Em momento algum Mark ou qualquer outro colaborador do Facebook violou, conscientemente, as obrigações da empresa nem há qualquer email que indique que isso aconteceu”.
Recorde-se que a FTC e o Departamento de Justiça norte-americanos, que aplicam as leis para evitar os monopólios de mercado, estão a preparar-se para avançar com uma investigação à Amazon, Apple, Facebook e à Alphabet (dona da Google), de forma a perceber como é que estas usam o seu poder no mercado. Em ano de início de campanha presidencial, muitos democratas – como Elizabeth Warren – já se mostraram publicamente favoráveis a esta ação.
*A jornalista viajou a convite do Facebook