“Este é um ano especial, não posso ser eu a apresentar os objetivos para os próximos anos e, por isso, quase vim de gravata”. Na hora da despedida, Paulo Azevedo só se atreveu a fazer um balanço dos últimos 4 anos de gestão da Sonae, depois de a sua “alma gémea da gestão”, Ângelo Paupério, ter apresentado as contas detalhadas. O futuro, ficará para a sua irmã Cláudia que, ao lado da sua equipa, ouviu Paulo já a falar como chairman da Sonae e a assumir o compromisso de lutar para que a nova CEO tenha as condições para tomar “decisões de longo prazo, com autonomia, cuidado e a atenção conhecedora do conselho e dos acionistas”. Assim, poderá “levar a Sonae para novos patamares e elevar a escala internacional”.
Também Ângelo Paupério já tinha agradecido a Belmiro de Azevedo e filhos por o terem tratado “com carinho” e lhe terem proporcionado o “projeto profissional de uma vida”. A amizade com o Paulo, “parceiro e companheiro de 30 anos, confidente de preocupações e angústias” acabou por ser selada com um abraço, mas antes manifestou a sua “profunda convicção de que a Sonae vai continuar a crescer e a ser um projeto de catalisador de contactos”.
Claúdia ouviu atentamente, agradeceu com sinais de cabeça e olhares cúmplices, mas não se manifestou. Mais tarde, conviveu com todos os presentes mais do que o habitual e só foi dizendo que se vai concentrar a fundo na Sonae, registando haver “grande entusiasmo” no grupo pela chegada de uma nova etapa. A Sonae prepara-se agora para ser uma verdadeira holding de negócios diversificados.
Em 2018, o volume de negócios cresceu 8,1% e atingiu os 6 mil milhões, proporcionando um lucro de 220 milhões de euros, mais 34% do que em 2017. Paupério realçou o “ano bom” para a Sonae MC (4,2 mil milhões de faturação), apesar da retirada do IPO para a colocar na bolsa. Destacou a Worten, que “consolidou a sua posição competitiva na Ibéria”, que se está a tornar uma empresa “cada vez mais digital” e alcançou “a liderança incontestável em Portugal”. Realçou a valorização em 255 milhões do portefólio da Sonae Investment Management e sublinhou o facto de a Sonae Sierra estar já a gerir 7,6 mil milhões de ativos. E mostrou-se satisfeito por a Nos chegar já a 4,5 milhões de lares, ter melhorada a quota de mercado
Há um senão: “O endividamento chegou a 1327 milhões de euros, superior ao do ano anterior por consolidação e aquisição dos 20% da Sonae Sierra. Caso contrário, a dívida tinha decrescido”. De qualquer modo, garantiu Paupério, a estrutura de capital continua “adequada e conservadora”. Se em tempos passados “a relação costumava andar entre um terço de capitais próprios para dois terços de dívida, hoje inverteu-se e anda num terço de dívida para dois terços de capitais próprios”.
A ideia era demonstrar como a empresa está preparada para “continuar caminho, com capacidade de apoiar novos negócios” a serem decididos por Cláudia Azevedo.
Paulo Azevedo mostrou quais foram os seus pilares estratégicos dos últimos anos, tendo à cabeça a internacionalização – uma das áreas em que sente que podia ter feito mais -, e, logo a seguir, a alavancagem e o reforço da base de ativos e competências. Por último, a diversificação do estilo de investimento, sublinhando o incremento do ecommerce de 50 para mais de 150 milhões de euros, lançando assim as bases para o futuro.
Do que fica em andamento, destaque para as áreas do Financial Services, com o cartão Universo a ser já usado fora do mundo Sonae, e as áreas de Saúde e Bem estar, com novos parceiros. Uma parceria com os CTT também “está pronta a ser lançada”.
E a sustentabilidade foi, e é, a sua grande batalha. “É o mais importante. A resiliência e o ser à prova de futuro”, sublinhou Paulo. Investiu cem mil euros por ano em projetos de investigação científica orientados para a biodiversidade, apostou em mais compras a fornecedores nacionais (está agora nos 83%). Tem mais de 20 centrais fotovoltaicas. Tem uma parceria com a universidade de Lisboa para conceber embalagens completamente biodegradáveis. E um pacto internacional para acabar de vez com o plástico.