Há dez anos, o mundo mudou. As maiores catedrais financeiras do planeta colapsaram sob o seu próprio peso, sem perceberem que os seus alicerces eram de barro. A falência do Lehman Brothers, a 15 de setembro de 2008, foi a grande peça de dominó que fez tombar uma longa e dolorosa sequência que ainda estamos a observar. Pode ser difícil de avaliar em tempo real, mas o mundo nascido dos escombros da crise financeira sofreu transformações tectónicas, com transferência de centros de poder, um consenso internacional enfraquecido, populações ressentidas e crescentes focos de nacionalismo. Sem a crise de 2008, teríamos Donald Trump na Casa Branca? E Matteo Salvini? Em Portugal, será que a Banca ainda teria os mesmos donos? A devastação da crise pode ter ficado no passado, mas as suas consequências estão bem vivas, hoje.
Até abril de 2008, o Lehman Brothers era o local de trabalho do português João Moreira Rato. No entanto, no dia a seguir à falência do banco, não resistiu a regressar ao epicentro daquela que viria a ser a maior crise dos últimos 80 anos. “No dia 16 fui ao Lehman. Não havia segurança à entrada. As pessoas estavam desorientadas. Algumas pediam-me ajuda para arranjar emprego. Havia até jornalistas. Era o colapso”, recorda. A queda foi “um dos maiores choques da minha vida profissional”.
Percorrer os corredores do Lehman naquele dia não era muito diferente de passear pelas ruínas de uma civilização decadente. Depois de sucessivos anos de ganhos estratosféricos, os bancos de investimento, tidos como os “mestres do universo”, viram-se “escravos do mercado”. Porém, em 2008 já ninguém caía sozinho. Esse foi um dos desenvolvimentos mais ignorados por políticos, economistas e banqueiros. A integração era muito mais profunda do que se julgava. Ativos, mercados e instituições não viviam isolados, o que significava que um vírus violento era capaz de contagiar todo o sistema.
Esse é apenas um dos pontos de um longo diagnóstico que hoje conhecemos de trás para a frente. Os anos que antecederam a crise foram marcados por um movimento de desregulação do sistema financeiro, num momento em que a globalização avançava a todo o vapor, o capital deixava de ter nacionalidade e entrava um novo peso-pesado – a China – na cena internacional.
Com juros baixos e um mercado a transbordar de liquidez, os bancos de investimento procuravam formas cada vez mais criativas de ganhar dinheiro. Entre elas, novos produtos que juntavam milhares de créditos hipotecários, vendidos depois em tranches, num processo conhecido como titularização. Os mortgage-backed securities (MBS) e as collateralized debt obligations (CDO) entravam no nosso vocabulário. “Havia muita inovação, muita liquidez e uma grande procura de formas de obter retornos maiores”, recorda Moreira Rato, que em 2012 foi nomeado presidente do IGCP, tendo dois anos depois entrado no BES como administrador financeiro, onde ficou apenas dois meses. “Era parecido com o que se vive na área tecnológica. O setor financeiro atraía os melhores talentos. Conheço o caso de um especialista em biologia e comportamento animal que, às tantas, estava a vender IPO [Oferta Pública Inicial].”
O apetite por aqueles novos produtos era cada vez maior, o que incentivava os bancos a concederem mais empréstimos para a compra de casa. Depois de os terem dado a quem tinha condições financeiras sólidas, começaram a estender o crédito a famílias que dificilmente conseguiriam pagá-lo (o famoso subprime). Muitos desses ativos tinham o carimbo de segurança das agências de rating, influenciadas pelo histórico do mercado imobiliário e pela pressão de dar avaliações que satisfizessem os seus clientes. Mais à frente, nesta edição da EXAME, um antigo analista da Fitch explica as motivações que existiam para dar o melhor rating possível. “O incentivo era não ver o cliente fugir”, lembra.
Em 2006, a economia norte-americana começa a desacelerar e, inesperadamente para a maioria dos envolvidos, o preço das casas recua, ao mesmo tempo que o incumprimento no crédito à habitação dispara. O castelo de cartas estava a abanar. O primeiro alerta sério chegaria no verão de 2007, com o BNP Paribas a anunciar a suspensão de três fundos. Em setembro, o Northern Rock pede financiamento de emergência ao Banco de Inglaterra e as ruas britânicas fazem a sua melhor imitação de um país da América Latina, com a primeira corrida aos depósitos, no Reino Unido, em quase 150 anos. “Nessa altura, havia a perceção de que o sistema estava muito esticado e de que haveria uma correção”, lembra Moreira Rato. “Mas, às tantas, começa a ser tarde demais. Os bancos de investimento detinham todos o mesmo risco e os investidores não queriam comprar.”
A atuação dos bancos não era totalmente irrefletida. Mesmo que não o admitissem, o comportamento de banqueiros e investidores assumia que, se a festa desse para o torto, o Governo viria atrás com uma esfregona para limpar os confetti ensopados em álcool. Não estava longe da verdade, com uma (enorme) exceção. “Nunca ninguém imaginou que o Tesouro [dos EUA] deixasse cair o Lehman”, confessa
Moreira Rato. O Bear Stearns já tinha sido comprado pelo JP Morgan e pelos dois gigantes do crédito hipotecário Fannie Mae e Freddie Mac, resgatados pelo Tesouro norte-americano. Muitas mais peças de dominó se seguiriam. No dia 16, a seguradora AIG também teria de ser resgatada. Semanas depois, no Reino Unido, seria a vez de Royal Bank of Scotland, Lloyds e HBOS.
No filme The Big Short, baseado no livro de Michael Lewis com o mesmo título, um investidor tenta explicar a um jornalista como é que o mercado financeiro norte-americano está à beira do abismo. “O que é suposto fazer? Escrever um artigo a dizer ‘Estamos todos fod***s’?”, pergunta o jornalista. “Sim! Esse é o título perfeito!”, responde o investidor.
O título seria, de facto, apropriado. Ben Bernanke chamou-lhe a “pior crise financeira da História global, incluindo a Grande Depressão”. A comparação com 1929 é tão inevitável quanto pertinente, mas evitou-se um sofrimento semelhante ao dos anos 30. A principal diferença foi a rapidez e a dimensão da intervenção das instituições públicas. Logo em outubro, o Tesouro norte-americano recebeu carta-branca para comprar até 700 mil milhões de dólares em ativos tóxicos e estabilizar o sistema financeiro. No ano seguinte, Barack Obama lançou um programa de estímulo maior do que o New Deal de Roosevelt.
A crise chegou como um tsunami aos EUA. Em dois anos, foram destruídos oito milhões de empregos; a economia entrou na Grande Recessão, a maior contração desde o final da Segunda Guerra Mundial; e, entre o valor das casas e as perdas na Bolsa, evaporaram-se 11 biliões de dólares da riqueza das famílias. Os economistas da Reserva Federal de Dallas calculam que, se somarmos os efeitos na atividade económica à perda de bem-estar devido ao aumento do desemprego, a crise custou 120 mil dólares por homem, mulher e criança dos EUA.
O rastilho de 2008 chega à Europa
O historiador Adam Tooze passou os últimos tempos a olhar para a crise e as suas repercussões. Ao longo das 700 páginas do seu recente livro Crashed, explica como algumas das mais importantes metamorfoses políticas dos últimos anos têm raízes em 2008. A partir das cinzas da crise houve uma reconfiguração política nos países desenvolvidos, eliminando ou tornando irrelevantes partidos históricos, esvaziando o centro e constituindo terreno fértil para o crescimento de movimentos de extrema-direita. Tooze nota que “muitos dos impulsos nacionalistas surgiram onde eles já existiam”, como Itália ou Reino Unido, mas reconhece que “é difícil imaginar Trump sem a crise de 2008”. “O nacionalismo e a xenofobia do Partido Republicano expandiram-se. As pessoas ficaram muito zangadas, com a crise”, afirma o professor na Universidade de Columbia.
Na Europa, esta onda populista foi alimentada pela crise migratória de 2015, mas tem também raízes económicas. A análise é feita por um dos maiores especialistas na exploração dessa raiva: Steve Bannon, o controverso ex-diretor do site Breitbart e estratega-chefe de Trump durante os primeiros meses da Administração. Numa conversa, em maio, com Fareed Zakaria, jornalista da CNN, Bannon junta Trump a Salvini e liga ambos a 2008: “A implosão dos mercados de capitais globais nunca foi resolvida. O rastilho que foi acendido e que, eventualmente, trouxe
a revolução Trump é o mesmo que está a acontecer em Itália.”
A crise da dívida do euro aconteceria provavelmente de qualquer forma, mesmo sem o crash de 2008. As fragilidades de arquitetura eram estruturais, os países tinham problemas de balança de pagamentos ou desequilíbrios orçamentais crónicos e não existiam firewalls em caso de crise ou pressão dos investidores. No entanto, 2008 foi um empurrão decisivo para chegarmos a 2010. “Normalmente, pensamos na crise da dívida – e bem, porque ela piorou muito as coisas –, mas se olharmos para as economias espanhola, italiana, alemã ou francesa, o grande choque dá-se em 2008”, aponta Tooze. A combinação das intervenções com dinheiro público, nos bancos em dificuldades, dos custos da recessão e dos estímulos para sair da mesma deixaram as finanças públicas de alguns países europeus numa situação de maior fragilidade.
Talvez mais relevante para a realidade política que vivemos hoje na Europa, a resposta colocou a nu a falta de preparação dos responsáveis políticos e das instituições comunitárias. A lentidão exasperante do processo de tomada de decisão, a postura ortodoxa do Banco Central Europeu (BCE), a retórica nociva trabalhadores/preguiçosos e a velocidade e a violência da austeridade exigida aos países são hoje alvo de crítica.
“Toda a gente percebeu que houve erros de análise, e até discursivos, que alimentam a dicotomia Norte/Sul. Essas feridas não estão minimamente saradas”, refere o investigador Bernardo Pires de Lima, entrevistado nesta edição. “Ninguém perdeu tempo a pensar no efeito de repulsa que geraria ter três ou quatro senhores com uma maleta que chegavam a cada capital com um programa draconiano.” A narrativa talvez fosse diferente se a crise irlandesa tivesse rebentado antes da grega. Os problemas irlandeses tinham origem no setor bancário, enquanto em Atenas havia descontrolo e maquilhagem de contas públicas. Aquilo que era considerado uma crise financeira e bancária passou a ser referido, essencialmente, como uma crise orçamental. “Quando a crise grega explodiu, isso fez com que os países se virassem para o ajustamento dos orçamentos. Alguns tinham de o fazer – e mesmo aí foi rápido demais –, mas na Alemanha ou em França não havia necessidade”, refere Zsolt Darvas, do think tank Bruegel.
Incapazes de se financiarem nos mercados, Portugal, Grécia e Irlanda pediram dinheiro emprestado à Europa e ao FMI em troca de austeridade e reformas estruturais. Nesta edição da EXAME, olhamos para os efeitos da crise em Portugal, com especial atenção à revolução vivida na Banca nacional, mas também às feridas que ainda estão por sarar na economia portuguesa.
Em contraste com a assertividade da Fed, o BCE demorou muito tempo a reagir, seja por culpa própria ou porque os políticos não lhe deram margem para fazer mais. “Uma solução holística implicava mudanças políticas na Zona Euro. Foi preciso consolidação orçamental, união bancária, disponibilidade do BCE para comprar dívida no mercado. A Europa demorou, literalmente, anos para que isso fosse possível. Entretanto, o denominador comum era a austeridade”, critica Tooze. Mais tarde, com o programa de quantitative easing no terreno e a verbalização do “whatever it takes”, o BCE travou a pressão sobre os países europeus. Sem um BCE mais ativo, como reagiria o mercado a dois partidos eurocéticos a governarem Itália? E a um Governo português apoiado por PCP e BE? “Draghi mostrou como a crise do euro poderia ter sido travada. Se Trichet tivesse feito [o mesmo] em 2010, nunca teria havido uma crise da Zona Euro. É o mais espetacular falhanço de política económica desde os anos 30”, acrescenta o historiador.
A crise trouxe-nos um novo entendimento sobre as funções e os limites da política monetária, transformando os banqueiros centrais em super-heróis económicos. A gravidade da crise e a falta de ação dos governos permitiu-lhes esticar os limites dos seus poderes de formas que, até há algum tempo, seriam consideradas heréticas em muitos círculos económicos. Mais à frente, a EXAME explora como o poder inédito dos bancos centrais vem acompanhado de muitas dúvidas e de uma pressão política adicional.
Tensão entre mercado e democracia
Chegamos a 2018 com um milionário ex-estrela de reality show na Casa Branca, o Reino Unido a meses de abandonar a União Europeia, mais de uma dezena de países europeus onde a extrema-direita tem mais de 10% dos votos, uma Rússia que abraçou o nacionalismo musculado, bancos centrais com balanços monstruosos e eleitores zangados com a dor provocada pela recessão ou pela austeridade e desiludidos com a
desigualdade e a corrupção.
Dentro de alguns anos, será mais fácil identificar os efeitos da Grande Recessão, mas algumas das marcas são já visíveis. Basta olharmos para “uma nova política radical à esquerda e à direita; para uma cultura pop estridente, ideológica, obcecada com vários apocalipses; uma internet alimentada por inveja, conflito e empreendedorismo sem fim; opiáceos e suicídios e baixas taxas de natalidade; e um ressentimento racial, de género e outros, sentido especialmente por aqueles que são deixados para trás”, descreve eloquentemente uma edição recente da New York Magazine.
Tooze argumenta que a crise veio dar razão a quem dizia que a economia global era dominada por empresas gigantes. Antes da eleição presidencial de 2008, Alan Greenspan não tinha problemas em assumir que, “tirando a segurança nacional, quase não faz diferença quem será o nosso próximo Presidente” porque “o mundo é governado por forças de mercado”. Na Europa, isso ficou claro no confronto com os mercados durante a fase mais aguda da crise da dívida. “O dogma otimista sob o qual a democracia e os mercados eram vistos como complementos naturais e necessários – o mantra do pós-Guerra Fria – estava morto”, escreve Tooze no seu livro. No seu lugar, a crise instalou a ideia de que os dois conceitos vivem em permanente tensão.
Embora 2008 tenha alterado permanentemente o arco da História, há quem argumente que muitos dos mecanismos que nos trouxeram até aqui continuam instalados. O sistema financeiro tem hoje de lidar com mais regulação – ainda que a tendência seja de recuo – e percebeu alguns dos erros que cometeu. Porém, só um executivo de topo de Wall Street foi considerado culpado de crimes, o que contrasta com a condenação de mais de 300 indivíduos muito abaixo na cadeia alimentar (responsáveis pela concessão de crédito ou promotores imobiliários). Até Greenspan admitiu que algumas das ações no mercado de subprime eram “simplesmente fraude”. Com os arranha-céus financeiros a arder, muitos banqueiros saltaram com paraquedas dourados. O presidente do Bank of America levou 125 milhões de dólares para casa, o CEO da AIG saiu com 202 milhões em ações e ainda processou o Governo norte-americano, o líder do Royal Bank of Scotland tem direito a uma pensão de 703 mil dólares por ano. É inevitável que permaneça no ar um cheiro a impunidade.
Se tem dúvidas sobre a mensagem que isto passa, basta ouvir novamente o megafone do populismo, Steve Bannon, desta vez em entrevista à já mencionada New York Magazine, quando lhe perguntam: a crise financeira teve um impacto maior no país do que o 11 de Setembro? “Sim, sem dúvida. Acho que não há comparação […]. Ninguém foi responsabilizado por isso […]. Obama chegou e fez um estímulo de quase um bilião de dólares e ninguém sabe para onde foi o dinheiro.” Para onde acha que foi?, perguntam-lhe. “Para resgatar os mais ricos.”
A culpa não está nas estrelas
Se quisermos ser um pouco otimistas, a crise foi uma oportunidade para aprendermos várias lições, algumas das quais sobre o funcionamento dos mercados financeiros. Os bancos não devem atingir uma dimensão tal que a sua falência represente o colapso do sistema. Dar rédea livre aos mercados pode acarretar custos pesados para os contribuintes. E, se o Estado deve providenciar uma rede de segurança, então também pode exigir mais aos bancos.
Na Zona Euro, ficou clara a fragilidade da arquitetura da moeda única. A integração a meio-gás que o euro viveu na sua primeira década tem como consequência novas e mais profundas crises. Deve haver algum tipo de mecanismo de apoio a países em dificuldades, e o BCE deve ter armas suficientes para acalmar os mercados. Muitas destas lições materializaram-se em reformas institucionais, mas continuam a faltar ferramentas orçamentais comuns. Ainda assim, países como Portugal parecem ter deixado de encarar contas públicas equilibradas como uma exigência extravagante. É uma mudança estrutural. Seja por trauma ou aprendizagem, essa ideia está hoje bem mais presente no debate público.
Também houve oportunidades perdidas. Kenneth Rogoff, um dos académicos mais prestigiados do mundo, defende que o caminho deveria ter passado pela reestruturação da dívida nos países do Sul da Europa e pelo combate à desigualdade.
“A crise teria sido uma boa oportunidade para aumentar impostos sobre os mais ricos (incluindo participações privadas, fundos de investimento, gigantes do imobiliário) e reforçar as transferências para quem ganha menos, o que provavelmente será a tendência a longo prazo, de qualquer forma”, diz à EXAME.
A ciência económica também aprendeu algumas lições. Sandro Mendonça, professor de Economia do ISCTE, sublinha que, “com a perspetiva que nos dá a História, percebemos hoje que uma limitação do ensino da Economia era o défice de… História”. Há dez anos, o agora membro do Conselho de Administração da ANACOM escreveu um texto no qual defendia que a crise também era “um falhanço teórico” por parte da Economia. Hoje, reconhece que houve progresso “nas margens”, citando a maior notoriedade dos estudos de desigualdade.
Ricardo Reis tem uma opinião diferente. Embora note que “houve imensas mudanças”, recusa que se tenha vivido “uma revolução”. E ainda bem, argumenta. “Quando o [vaivém] Challenger explodiu, não houve uma revolução na Ciência Aeroespacial. Daquilo que ensinávamos em 2005, poucas coisas se revelaram erradas, mas aprendemos muitas coisas novas e algumas mais importantes do que achávamos.”
Ter mais conhecimento não significa atuar sobre ele. O que suscita a pergunta: Estamos mais bem preparados para uma nova crise? Nuno Teles é um pessimista. “Penso que se aprendeu muito pouco.
As promessas de regulação resultaram numa mão-cheia de nada. Alguns progressos estão hoje em risco de desaparecerem. Os bancos “demasiado grandes para falir” tornaram-se ainda maiores, com as aquisições e fusões do pós-crise. O modelo de negócio bancário continua o mesmo, alimentando bolhas especulativas nos mercados bolsista e imobiliário”, refere o economista.
Tão importante como assimilar as lições individuais, é combater a ideia de que esta crise era uma fatalidade. Não foi um meteorito. Ela aconteceu porque gestores, empresários, governantes e reguladores agiram, ou permitiram que se agisse, de determinada forma. “As sentinelas não estavam nos seus lugares, em parte devido à fé generalizada na natureza autocorretiva dos mercados e na capacidade das instituições financeiras se policiarem a si mesmas”, escreveu a comissão de inquérito nomeada pelo Congresso dos EUA para investigar a crise financeira. “A crise foi o resultado de ação e inação humana, não da Mãe Natureza ou de modelos de computador errados […]. Embora o ciclo económico não possa ser abolido, uma crise desta magnitude não tinha de acontecer. Parafraseando Shakespeare, a culpa não está nas estrelas, mas em nós próprios.”
Ou seja, está nas nossas mãos evitar uma nova catástrofe como a de 2008. Para quem ainda vive nas ruínas do antigo mundo, não é um mau slogan para a reconstrução.