A empresa portuguesa Lusorecursos, que até ao final do ano espera assinar com o Estado o contrato para exploração de lítio em Sepeda, Montalegre, quer construir uma fábrica de processamento de hidróxido de lítio e começar a produzir esta matéria-prima para as baterias elétricas a partir de meados de 2021.
“O arranque da extração deverá acontecer no início de 2020. Em meados desse ano vamos extrair feldspato para cerâmica e a produção de hidróxido de lítio em meados ou finais de 2021,” disse à EXAME o CEO da Lusorecursos, Ricardo Pinheiro. Nos quatro a cinco anos seguintes a produção entrará em “velocidade cruzeiro”. Segundo as últimas estimativas da empresa, a concessão de Montalegre terá disponíveis recursos de pelo menos 30 milhões de toneladas de minério (petalita), ao longo de 20 anos.
A empresa espera ter os estudos para a fábrica concluídos em 2019 para depois investir cerca de 400 milhões de euros (o valor definitivo vai depender do estudo de exequibilidade) na construção das instalações para processamento de compostos de lítio. Embora não avance as identidades ou a origem geográfica dos potenciais investidores, garante estar em conversações com vários parceiros internacionais.
“Este setor tem muitas formas de financiamento, todas elas estão a ser postas em cima da mesa,” afirma Ricardo Pinheiro. “Tudo vai estar assegurado depois de finalizar o contrato. Está muita coisa falada, mas não há nada fechado.” Deixa, contudo, a garantia de que, independentemente da origem do capital, “a Lusorecursos tem e terá sempre uma gestão portuguesa.”
Neste momento, explica, estão a ser ultimadas as cláusulas particulares do contrato de exploração e a Lusorecursos espera que a assinatura com o Estado ocorra até ao final deste ano. Entretanto, estão também a decorrer contactos com potenciais clientes dos setores cerâmico e das baterias elétricas, onde os compostos de lítio são utilizados. Uma vez mais, silêncio em relação à identidade ou origem destes clientes.
Além da concessão de Sepeda, onde espera pela formalização do contrato de exploração, a Lusorecursos está ainda interessada em participar nos concursos que o Governo pretende lançar até ao final do ano para atrair investidores com o objetivo último de criar uma fileira industrial em torno deste minério, associando a componente de transformação à da extração. “Estaremos a jogo. Vamos ver como é que vão ser lançados, quantos serão, e só depois decidiremos,” refere o responsável.
A Lusorecursos esteve envolvida durante o ano passado num intenso litígio jurídico com a australiana Novo Lítio, pela detenção da licença de prospeção de Sepeda. Há quase um ano, em novembro, a empresa portuguesa deu entrada do pedido de licença de exploração junto da Direção Geral de Energia e Geologia (DGEG).
Entretanto, no relatório e contas do primeiro semestre, a Novo Lítio diz que as negociações posteriores com a Lusorecursos falharam e que continua a querer fazer valer o seus “direitos legais”, tendo para isso contratado um novo escritório de advogados para a aconselhar nesta disputa.
Além da Lusorecursos, também a britânica Savannah Resources prevê investir em minas de lítio em Portugal, nas Minas do Barroso, também em Trás-os Montes, neste caso de 109 milhões de dólares (cerca de 94 milhões de euros à cotação atual). A produção pode arrancar ainda no primeiro trimestre de 2020, noticiou a Lusa em junho. “A concorrência é sempre saudável. Cada um olha para o seu projeto e cada um para o seu caminho,” considera Ricardo Pinheiro.
Portugal é considerado um dos dez maiores produtores globais de lítio. No País, o relatório do Grupo de Trabalho “Lítio”, encomendado pelo Governo, identifica nove as regiões com ocorrência de mineralizações de lítio, sobretudo no Centro e Norte do país: Serra de Arga, Barroso-Alvão, Seixoso-Vieiros, Almendra, Barca de Alva-Escalhão, Massueime, Guarda, Argemela e Segura.