Paixão, paciência e motivação são ingredientes para vingar no mundo dos negócios. “Nunca tive paixão pelo dinheiro, não quero saber do dinheiro. Sempre quis saber do emprego, queria ser o número um. E fiquei sempre muito chateado quando não era o número um”, explicou Patrick Drahi esta tarde perante uma plateia de cerca de duas centenas de pessoas na Católica Lisbon Business & Economics.
O fundador do grupo Altice esteve presente no lançamento do novo Centro de Inovação Tecnológica e Empreendedorismo da Universidade, um projeto que recebeu financiamento da Fundação Patrick e Lina Drahi, e atribui dois prémios de empreendedorismo. Aproveitou o momento para, no final, deixar alguns conselhos aos “empreendedores e futuros empreendedores na sala”.
Drahi contou que os pais eram professores de matemática e que não foi “autorizado a estudar negócios”, e foi por isso que se tornou engenheiro. Mas a sua ambição foi sempre muito clara: ser líder de uma grande empresa. “O meu sonho era ter milhares de empregados e ser o número um. Comecei num grande grupo e ao fim de um ano não percebia porque é que não era o CEO desse grande grupo. Fui perguntar ao meu chefe e ele explicou-me que quando eu tivesse 50 anos e, se tivesse subido com sucesso todos os degraus da empresa, talvez pudesse ser o CEO do grupo. Por isso saí e construi um”, resumiu. A Altice foi fundada em 2001 e cresceu com a ajuda de fusões e aquisições de outras empresas, como a PT Portugal, comprada em 2015.
“Antes para tomar uma decisão começava por pensar com a minha cabeça, depois sentia com o meu coração – é muito importante tomar decisões justas. Quando se dá o caso de ter de decidir entre o coração e a razão, decido com o meu estômago”, revelou o milionário franco-israelita.
Fidelidade e a liberdade são os valores que diz mais lhe importarem. “Comecei com um sócio e ainda somos amigos até hoje. Os negócios nunca são uma linha tranquila a subir, há altos e baixos, e fico muito contente de ver as mesmas pessoas por 20 ou 30 anos – o espírito de equipa é muito importante. Além disso, a liberdade é essencial. Temos de fazer o que temos de fazer, e não ouvir mais ninguém. Se todos vos disserem que o vosso projeto é mau, se calhar é porque é bom – nem todos podem ser empreeendedores. Se todos soubessem a verdade não valia nada. No fundo é por estes dois valores que todas as pessoas no mundo lutam: amizade e liberdade”.
O mais importante para alguém se transformar num empreendedor de sucesso é auto-confiança, garante Patrick Drahi. “Não oiçam ninguém. Dou-vos um exemplo: é como os bebés que não sabem nadar. Se os meterem na piscina com três meses, eles vêm ao de cimo sem se afligirem, aos três anos não conseguem. Não andem às voltas à volta da piscina, saltem lá para dentro. Vão ver que não é tão difícil assim nadar”, continuou.
Para todos os presentes, deixou uma última lição: “Nada é planeável, tanto nos negócios como na vida. Vivam a vida, divirtam-se e encontrarão o vosso caminho”.
Media Capital: Confiança na luz verde do regulador
No final da sessão, perante um grupo de jornalistas, Patrick Drahi deu mais algumas declarações sobre a Altice. Reforçou que a empresa vai recorrer à Justiça para tentar anular a multa de 125 milhões de euros imposta pela Comissão Europeia por causa da compra da PT Portugal ainda antes de o negócio ter sido aprovado pelos reguladores. “Não sei como foram feitos os cálculos. Por isso, vamos para tribunal para contestar esta decisão”, afirmou, esclarecendo que vai fazer “tudo para não pagar”.
Sobre a compra da Media Capital que aguarda luz verde da Autoridade da Concorrência, Patrick Drahi diz-se “muito confiante”. “Nada altera a minha confiança e nem depende de mim. Quando algo não depende de nós, não temos de fazer nada. É só esperar pela decisão das autoridades”, acrescentando que “o regulador tem todas as hipóteses em cima da mesa, por isso só nos resta esperar pela sua decisão”. Como avançou o Expresso esta semana, a Altice apresentou oito compromissos à Autoridade da Concorrência.