Desde Dezembro de 2105, na COP 21 de Paris, a comunidade internacional comprometeu-se a limitar o aumento da temperatura ao teto máximo de 2ºC em relação aos níveis da era pré-industrial. Desde então, os governos em parceria com as cidades/regiões, empresas e cidadãos têm vindo a adotar um conjunto de medidas e programas para cumprir com esse desígnio.
Após o Acordo de Paris, o setor dos transportes tem sido um dos líderes na dinâmica da descarbonização tendo em consideração que é responsável por uma grande parte (cerca de 25%) da emissão de Gases com Efeito de Estufa (GEE), exercendo fortes pressões sobre o ambiente e o bem-estar humano.
Neste particular, a descarbonização da mobilidade passou a estar na agenda, verificando-se, atualmente, a tendência da eletrificação da mobilidade, a utilização de novas dinâmicas de mobilidade nas cidades/regiões como a introdução de novos modais de mobilidade e serviços de partilha (car sharing, scooter sharing e bike sharing), novos conceitos na distribuição logística urbana, mas sempre numa ótica associada à eletrificação, e a implementação de instrumentos de promoção da neutralidade carbónica tendo por base políticas fiscais e de inovação que fomentam a “condução verde”.
Estas novas dinâmicas obrigam-nos a refletir. De acordo com dados mais recentes do World Economic Forum, em 2025 existirão entre cerca de 40 a 70 milhões de carros elétricos a circular nas estradas mundiais, sendo a China o principal mercado de veículos elétricos no mundo. A Bloomberg New Energy Finance (BNEF) vem demonstrar que a eletrificação da mobilidade vai obrigar a uma “revolução renovável”, ou seja, o mix-energético terá que ser tendencialmente renovável. Atualmente, cerca de 44% da energia produzida na China tem origem no carvão, em contraste com a Noruega que tem um mix-energético praticamente de base renovável e que também tem elevada taxa de utilização de veículos elétricos. Neste contexto, muitos dos esforços para promoção da descarbonização da mobilidade estão dependentes de iniciativas de descarbonização da produção de energia a serem realizadas pelo setor energético.
A promoção da neutralidade carbónica na mobilidade tem outros desafios que passam pela existência e reforço de investimentos nas infraestruturas de carga para veículos elétricos, com o objetivo de criar a “perceção” de segurança de abastecimento ao utilizador. A dinamização de políticas públicas de promoção da mobilidade sustentável (fiscais, prioridade de estacionamento, transportes coletivos e frotas) e a promoção de um planeamento urbano e rodoviário que vá ao encontro das novas dinâmicas de mobilidade constituem também desafios futuros. No entanto, será critico o desenvolvimento de soluções que promovam a interoperabilidade e a integração das diversas soluções de mobilidade numa cidade ou região e que possam ser ferramentas que permitam ao cidadão optar por comportamentos mais sustentáveis associados à sua mobilidade individual.
Neste percurso de descarbonização da mobilidade, e aproveitando a “revolução renovável do setor energético nacional”, Portugal tem conseguido estar “no pelotão” da frente. Esta liderança deve-se ao facto de existir uma rede nacional de carregamento para veículos elétricos, o governo e autarquias estarem a implementar políticas públicas de promoção da mobilidade sustentável, nomeadamente a aquisição de veículos elétricos para as suas frotas, uso do transporte coletivo em detrimento do transporte individual, mas também porque as empresas estão mais conscientes para esta dinâmica e iniciaram a adoção de planos de mobilidade que promovem a neutralidade carbónica.
A tecnologia é um elemento chave na alteração de comportamentos associados com a mobilidade sustentável e, aqui, as nossas empresas têm mostrado liderança mundial não só nas infraestruturas de carregamento de veículos elétricos e no desenvolvimento de plataformas que monitorizam e quantificam, em tempo real, o CO2 evitado na mobilidade, mas também na integração e na interoperabilidade de diferentes modais.
Atingir o objetivo de neutralidade carbónica em 2050, em Portugal, não será um caminho fácil. A mobilidade sustentável dará um forte contributo, devendo assegurar-se o acesso universal, a segurança, a eficiência, o descongestionamento e a qualidade do ar e ruído.