O número de pessoas que, em Portugal, terá visto os seus dados de utilizador do Facebook partilhados indevidamente com a consultora Cambridge Analytica ascende a 63.080, anunciou esta quinta-feira aquela rede social, um acesso indevido a esta informação que ocorreu com a partilha de dados obtidos a partir da aplicação “thisisyourdigitallife”.
Em Portugal, de acordo com a mesma informação, apenas 15 pessoas descarregaram esta app no Facebook. Mas – e esclareceu mais tarde a rede social – nem todos os mais de 63 mil utilizadores portugueses afetados o foram através das 15 pessoas que fizeram o download em território nacional. O alcance aos dados desses milhares de utilizadores nacionais pode ter sido feito através de outras pessoas da rede de contactos e que tenham descarregado a app fora do país.
Números revelados no dia em que a empresa também reviu em alta a sua estimativa para o total de afetados por esta situação: de 50 milhões para 87 milhões. “Usámos uma metodologia expansiva – esta é a nossa melhor estimativa para o número de pessoas que diretamente instalaram a aplicação, bem como aqueles cujos amigos terão visto os seus dados acedidos,” acrescentou a rede social.
A nova estimativa surge semanas depois de o Facebook se ter visto envolvido na polémica da alegada utilização abusiva de dados recolhidos por terceiros junto de membros daquela rede social. Os dados daqueles milhões de utilizadores, alcançados através de respostas na aplicação “thisisyourdigitallife”, na prática um teste de personalidade criado pelo psicólogo e cientista de dados Aleksandr Kogan.
As respostas permitiram reunir dados de 270 mil utilizadores entre 2014 e 2015 e alcançar também os dos seus contactos na rede, tendo estes sido posteriormente usados pela empresa de consultoria política Cambridge Analytica, (consultora que trabalhou para a campanha de Donald Trump nos EUA) com o intuito de conceber mensagens políticas dirigidas individualmente e que poderiam influenciar processos eleitorais.
Ainda esta semana, a Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD) tinha dito à EXAME estar a acompanhar “de perto” a investigação levada a cabo pela sua congénere britânica ao acesso de dados extraídos do Facebook, garantindo no entanto que até aquele momento, em Portugal, não tinha recebido queixas relativas a este caso.
Além de não ter recebido queixas sobre esta matéria, a CNPD referia não ter “conhecimento de situações idênticas” relacionadas com o uso abusivo de dados extraídos do Facebook. “Neste momento, todo o procedimento é ainda confidencial, pelo que não poderão ser prestadas para já mais informações,” acrescentava a mesma fonte.
Ainda ontem a empresa anunciou ter revisto os termos de utilização e a sua política de dados, que submeterá à consulta dos utilizadores ao longo de sete dias, tudo – diz – com o objetivo de transmitir maior clareza. Num comunicado enviado às redações através da sua agência de comunicação em Portugal, a empresa liderada por Mark Zuckerberg referia que a revisão que será levada a cabo não acrescentará novos direitos à empresa para usar os dados dos utilizadores.
“O Facebook não está a pedir novos direitos de recolha, utilização e partilha e dados aos utilizadores, nem a alterar nenhuma das opções de privacidade feitas por estes até à data,” garantia.
(Notícia e título corrigidos às 17:35)