“As melhores empresas ESG são aquelas que não precisam de mencionar que são ESG”, foi assim que Rodrigo Tavares, fundador e CEO do Granito Group e professor adjunto de Sustentabilidade Financeira da Nova SBE terminou a sua conferência. Este será “o futuro” e o que nos diz a tendência.
Num mundo em que “a rastreabilidade vai ser permanente”, com os produtos a terem uma etiqueta onde contabilizam toda a pegada carbónica, “os relatórios de sustentabilidade e financeiros” de uma empresa terão de ser integrados, ou seja, serão um só. E este é também um desafio para os analistas que os produzem, que se terão de tornar especialistas nestas áreas. Porque gestão e sustentabilidade serão uma só coisa.
Mas para já, ainda estamos apenas a travessar um vale, um momento em que a sustentabilidade financeira e ambiental é remetida para um simples departamento da empresa, com conceitos muito variáveis de país para país, com definições pouco consistentes, fruto de um “mercado que cresceu de forma desorganizada”.
“A maior parte das empresas não tem capacidade técnica interna para esta grande transformação”, advertiu Rodrigo Tavares, que será “um processo longo e complexo de mudança”. Mas avisou que quem se especializar nesta área terá emprego assegurado: “em Londres pagam 1 milhão de libras por um técnico de ESG”.
A mudança será, portanto, inevitável. Antes de Rodrigo Tavares, já Nadim Habib, também professor na Nova SBE, tinha advertido que a ESG (que na sigla inglesa significa Environmental, Social and Governance e indica os padrões ambientais, sociais e de governança corporativa e o nível de compromisso das empresas com a sustentabilidade responsável) “para ser mais relevante, não pode estar fechada num simples departamento da empresa, na comunicação ou no marketing”. Tem de estar integrada na gestão.
Quando sai da capital, Nadim não vê grande preocupação com o ambiente. “Temos de levar isto mais a sério ou os custos associados vão disparar”, avisou. Porque as novas gerações “vão recusar-se a comprar produtos não sustentáveis”. É uma geração “que se agarra menos a bens”, “não tem carro, nem casas de férias”. E também “não vão querer trabalhar” nas empresas que não levem isto a sério. “Há uma geração que vai exigir muito mais das empresas e da forma como elas trabalham”, conclui.
E possível matematizar isto? É
Rodrigo Tavares mostrou como isto da ESG não é novo. “Começamos há 200 anos com filantropia corporativa, onde lucros eram canalizados para projetos sociais ou ambientais”, indicou, dando o exemplo de Rockefeller. Mas as empresas ainda estão na fase de criarem “centros de responsabilidade social corporativa”, e falarem disso na sua estratégia ou nos produtos. Só que o “o futuro passa por full ESG”, ou seja, “não falar de ESG”, porque esta “não pode ser ilhada dentro de uma organização, vai fazer parte dela”.
Se muitas empresas ainda olham para a sustentabilidade como uma forma de “fazerem o bem”, o necessário é que isto “faça sentido de um ponto de vista económico e financeiro”. Daí a importância de “demonstrar que a integração de práticas de sustentabilidade gera impactos positivos e valor para as empresas”.
“É possível matematizar isso? É”. Rodrigue Tavares lança a pergunta e responde mostrando um quadro onde se compara ações de empresas sustentáveis com as que não são, assim como o risco e o retorno dessas ações. Conclui-se aí que “as mais sustentáveis têm melhor performance financeira e a exposição ao risco é inferior”. Só que se isto mostra a correlação, ainda não consegue provar a causalidade, pois também tem de jogar com o tipo de empresa.
Certo, por fim, é que a ESG é a “principal alteração do capitalismo” e que no futuro a Nova SBE não vai ter “30 cadeiras de sustentabilidade” como hoje, mas “nenhuma”.