Desde março, Portugal registou quatro picos de mortalidade – em abril, maio, julho e setembro – que ultrapassaram a média de mortes esperada. Um olhar ao último relatório do Instituto Nacional de Estatística (INE), revela como, entre 2 de março e 4 de outubro de 2020, o País registou mais 7 474 óbitos do que a média, em período homólogo, nos últimos cinco anos. Descontando as provocadas pela Covid-19, concluiu-se que 5 456 mortes não são explicadas clinicamente pela infeção do novo coronavírus. “Os estudos que têm sido feitos relativamente à mortalidade mostram que o prejuízo deste planeamento e desta organização que temos tido no combate à pandemia está a ter um efeito devastador nos doentes não Covid”, revela Miguel Guimarães, bastonário da Ordem dos Médicos.
“É só a ponta do icebergue”, aponta José Fragata, diretor do Serviço de Cirurgia Cardiotorácica do Hospital de Santa Marta, em Lisboa. “Ninguém está preparado para algo assim, mas o SNS não tem capacidade para lidar com a Covid-19 e com as restantes doenças ao mesmo tempo”, acredita. “Fosse por incapacidade dos hospitais ou pelo medo das pessoas, houve trabalho médico que deixou de ser feito”, diz, perentório.
Os especialistas apelidam-nas de “mortes colaterais da Covid-19” e justificam-nas não só pela limitação, suspensão e atrasos na realização de consultas, cirurgias eletivas, exames complementares de diagnóstico e rastreios, mas, sobretudo, pelo medo que afastou milhares de portugueses dos cuidados de saúde, desde a chegada da pandemia. Porque, se as imagens chegadas do caos hospitalar de Espanha e de Itália permitiram aos nossos hospitais preparem-se para o furacão, também incutiram um grande receio na maioria da população, sobretudo nos grupos de risco e nos idosos.
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