A 16 de junho de 2015, o magnata e apresentador de TV mais conhecido de Nova Iorque anunciou com pompa e circunstância que era candidato à presidência dos EUA. Numa conferência de Imprensa bizarra em que falou do seu império, da sua fortuna e até dos produtos com o seu apelido – bifes, ketchup e vodka incluídos –, Donald Trump não sentiu necessidade de explicar quais os principais pontos do seu programa de governo. Uma prodigiosa jogada de marketing, pensaram muitas das pessoas que o ouviram na altura. No dia seguinte, o site noticioso The Huffington Post fez saber que iria tratar o candidato republicano na sua secção de entretenimento: “Não mordemos o isco. Se está interessado naquilo que Donald tem para dizer, encontrará o que procura ao lado das nossas histórias sobre as Kardashian [as famosas irmãs, paradigma do voyeurismo consumista, que transformaram as suas vidas num reality show].”
A realidade demonstrou, pouco depois, que o apresentador de O Aprendiz deveria ter sido levado a sério – a 8 de novembro de 2016, derrotou a democrata Hillary Clinton e tornou-se, para surpresa geral e dele próprio, segundo algumas biografias, o 45º Presidente dos EUA. A partir desse momento, a Casa Branca converteu-se num espetáculo diário, permantente e imprevisível. As decisões e as declarações do chefe de Estado surpreendiam pela forma e pelo conteúdo, ao mesmo tempo que a sua Administração se tornava alvo de críticas domésticas e globais, por denotar um constante desrespeito pelas regras básicas do Estado de direito e da convivência internacional. O New York Times, num demolidor editorial publicado em agosto de 2017, escreveu, a propósito, que Donald Trump “é um príncipe da discórdia que parece divorciado da decência e do sentido comum”. O visado limitou-se a responder que o grande diário da Big Apple era o “campeão das fake news” e um dos melhores exemplos de como a Imprensa e os meios de comunicação tradicionais são “inimigos do povo”.
Os “factos alternativos” impunham-se como narrativa política, e um dos grandes cientistas sociais do país, Timothy Snyder, professor na Universidade de Yale, alertava para os riscos de uma crise de regime, por obra e graça de um “populista com tiques autoritários”, admirador confesso de Vladimir Putin, interessado em minar todo o sistema de pesos e contrapesos criado pelos pais fundadores da América, no final do século XVIII.
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