Em Ferraria de São João, uma pequena aldeia de Xisto, no concelho de Penela, há muito que se mimam os sobreiros que lá existem. Não só pelo fresco que proporcionam as suas copas centenárias, mas porque os seus moradores têm consciência do papel que estas árvores autóctones desempenham em caso de incêndio.
E agora, depois de as chamas terem lambido a orla da aldeia há um mês, eles mantiveram-se quase todos intactos – são a prova, a olho nu, de que são excelentes corta-fogos. Há vestígios de terra queimada em todo o perímetro de Ferraria e depois vê-se uma mancha verde, qual aldeia gaulesa, composta por cerca de duas centenas de sobreiros. E o fogo chegou lá, queimou uma ou duas árvores, e parou, protegendo os moradores.
Quando o maior proprietário desse sobreiral, José Vaz, quis vender 84 árvores, a associação de moradores comprou-as para mantê-las exatamente no mesmo sítio, enriquecendo o espaço público, com exemplares que têm mais de 200 anos. Depois, como não conseguiam dar-lhes uma boa vida, deram-nas para adoção – a troco de 60 ou 80 euros anuais, consoante o tamanho do sobreiro (neste momento, 60% têm dono), os adotantes têm direito a metade da cortiça dele extraída e à sua sombra. E em setembro, podem piquenicar todos juntos, dando vivas por o abate dos sobreiros ser proibido desde 2001. Com o dinheiro arrecadado com esta iniciativa, a associação de moradores vai recuperando a aldeia e tratando de protegê-la, como está a acontecer neste momento. Na verdade, vão limitar-se a cumprir a lei (decreto-lei 124/2006) que proíbe que a menos de 100 metros das paredes das casas haja explorações, pastagens ou árvores.
Por estes dias assinalaram todas as parcelas (ou mini parcelas) de terra e um GPS de alta definição fez a digitalização da área onde se vai intervir. Depois de tudo identificado com os nomes dos 58 proprietários que existem nos 36 hectares em questão, vai proceder-se ao corte de toda a madeira e arrancar as raízes do que ardeu. Com a ajuda de especialistas, e só em outubro, irão plantar espécies autóctones, cumprindo o espaçamento devido para evitar o fogo e embelezar esta zona-tampão.
Como adotar um sobreiro
Como forma de financiar não só a aquisição mas principalmente a sua manutenção e gestão – que implica cortes sanitários, limpezas de vegetação, beneficiação do espaço – a associação decidiu lançar este original programa de adoção de sobreiros, com alguns benefícios para quem fica dono da árvore:
– Pode personalizar o seu sobreiro com 3 símbolos, normalmente as iniciais do adotante;
– A adoção tem um período de 9 anos;
– Direito de opção sobre 50% do valor da venda da cortiça do sobreiro;
– Usufruto da sombra do sobreiro;
– Oferta de mensalidades de associado;
– Participação na atividade anual dos adotantes que normalmente é um piquenique no sobreiral;
– Contributo para a gestão e manutenção do sobreiral;
– Diploma de adoção;
Se estiver interessada/o em aderir a esta campanha, basta enviar um email para associacaofsj@gmail.com e dizer qual o tipo de sobreiro que pretende adotar.