Nas últimas décadas, Oeiras tem feito um percurso singular e notável no desenvolvimento territorial em Portugal. Depois de se tornar o primeiro município do país a erradicar as barracas, e de se colocar na vanguarda da dinâmica empresarial e da inovação, com a criação do maior conjunto de parques empresariais do país, Oeiras prepara-se agora para abrir um terceiro ciclo de desenvolvimento, com uma aposta poderosíssima: a cultura.
A cultura é entendida como ferramenta capaz de construir comunidades, gerar dinâmicas, transformar o território de uma forma tangível e intangível, em suma: criar uma nova cidade. E expandi-la, ultrapassando fronteiras. Porque a candidatura Oeiras 27 não se fecha sobre o município, mas estende-se, numa lógica colaborativa, a municípios vizinhos na Área Metropolitana de Lisboa.
Esta visão materializa-se em cinco eixos estratégicos à volta dos quais se estruturará a proposta final, destacando conceitos centrais para a contemporaneidade, como o de “ecossistema urbano” e de temas definidores da identidade do município, como a “poesia e as culturas de língua portuguesa”, as “artes e a criatividade”, as “heranças culturais” e o “património marítimo”.
Duas perguntas ao Comissário, Jorge Barreto Xavier
O que motiva esta candidatura?
Hoje o sentido da vida urbana e a perceção individual e coletiva da ideia de território é diferente do que existia há uns anos, quando não havia a mesma mobilidade, acessibilidade, e quando não havia sequer Internet. Estamos a construir um sentido presente de comunidade. E há um desafio enorme de evitar que a comunidade se fragmente, se tribalize. A cultura é um meio que pode contribuir tanto para afastar as pessoas como para as ligar. No caso do que estamos a fazer em Oeiras, achamos que é um cimento: usar a cultura como âncora de uma nova ideia de cidade. Este é um desafio nosso, nesta região, mas também um desafio global. A democracia está mais frágil. Portanto é ainda mais crucial ter cidadãos críticos, capazes de ler o mundo à sua volta, de participar, de ter uma opinião ativa.
Quais são os principais argumentos de Oeiras?
Oeiras, apesar de ser um concelho ao lado da capital, não é periferia – conseguiu ultrapassar esse estatuto através da maneira como se construiu nas últimas décadas. A ideia de que Oeiras tinha de ser um município dormitório da região e Lisboa, passou a ser que tinha de ser um município ativo como espaço de empresas. Nos anos 90 poucos acreditavam que isso fosse possível criar um parque empresarial viável em Porto Salvo. E hoje o Tagus Park é o maior parque empresarial do país. Ou seja, é possível através da visão sobre as coisas agir e transformar o território. A perspetiva desta candidatura é, depois do ciclo de intervenção social estruturante, da dinâmica económica, se abra agora um terceiro ciclo, e construa uma ideia de cidade. Independentemente de ganharmos a candidatura a Capital Europeia da Cultura, esta é uma visão para se concretizar.