É todos os anos a mesma complicação. Depois de semanas de negociações, telefonemas, trocas de mensagens intermináveis no whatsapp, discussões, amuos, insultos e palavrões, várias datas, horários e locais depois, fica marcado o jantar de Natal dos amigos. Mas agora vem a parte pior: o jantar. É que agora é preciso reunir esta gente.
Já sabes que vais ter de aturar as desculpas esfarrapadas do Zé, aquele teu amigo que toda a gente sabe que é “esquecido” e que quando chega a hora do sorteio do Amigo Secreto, fazem figas para ver se não lhes calha. É garantido: se fores o amigo secreto dele vais para casa de mãos a abanar.
Por via das dúvidas, mais vale ires aquecendo o estômago com uma Super Bock enquanto esperas pelo Miguel, o atrasado crónico. É verdade que lhe disseste que era às 19h30, para teres a certeza que ele chegava a horas, mas ele já não cai nessa.
Pede duas. Vais precisar, para aguentares a Ana, a histérica do Natal. Já sabes que ela vai querer levar bandoletes de rena e camisolas de Pai Natal para todos. Uma semana antes, vai ligar todos os dias para o restaurante para garantir que o “Last Christmas” vai ouvir-se umas 15 vezes. E vai estar sentada ao lado da pessoa certa: o Jorge. O Jorge é do contra. Contra o trânsito. Contra as pessoas. Contra o frio. Contra as luzes. Contra as decorações. Contra a época. Contra o espírito em geral. Contra as canções… O Jorge odeia o Natal e só vem ao jantar… Só vem ao jantar porque há Super Bock. E porque o Zé vem e não traz nada. E porque com sorte, a Marta, que foi a primeira a responder, a mandar bocas para quem chegasse atrasado, não só não aparece como não diz nada e vai ter o telefone desligado o resto do ano. Baldas.
Não te preocupes, os teus amigos não são casos de estudo. Não precisas de os doar à ciência. Os defeitos também os tornam especiais e neste Natal, mais importante que jantar, é juntar os amigos. Que os nossos defeitos não impeçam encontros perfeitos!