Da adição aos ecrãs às aulas de poesia
Os futuros médicos vão poder escolher uma nova cadeira: "Introdução à Poesia", lecionada pelo poeta e também médico João Luís Barreto Guimarães
Leitor, uma espécie em vias de extinção
Nos países ocidentais, porque as crianças de 2 anos passam em média 3 horas em frente a ecrãs, as que têm idades entre os 8 e os 12 anos perto de 5 horas e os jovens entre os 13 e os 18 quase 7 horas por dia, as gerações que estamos a educar – constituídas pelos chamados «nativos digitais» – vão ser as primeiras nas décadas recentes a ter valores de QI inferiores ao dos pais
Resgatar leitores perdidos
Muitos dos portugueses que hoje não leem já foram leitores, pelo que o grande desafio que enfrentamos, bem maior do que tentar mostrar aos que nunca leram que há livros ótimos para eles, é o de resgatar leitores perdidos
Cidade a Banhos: as Histórias do Rio
A cidade inteira acorria àquelas águas mansas, para nelas se expurgar da tensão, do bulício e de outras pragas que lhe são próprias. Não seria exatamente a cidade inteira, mas por ali se via toda a sorte de gente, não se pense que aquele era um hábito da indigência
Investir nos livros e na leitura
Ver livros, lidar com livros, percepcionar valor nos livros – raros e felizes aqueles que se fazem leitores sem o incentivo calado que constitui crescer com livros em casa ou a ver os pais a lerem – produz resultados. Porque um país que não lê não pode aspirar a muita coisa
Tadeu, o Rapaz Foguete
Jurava que haveria de levá-la à lua, mesmo sem saber o que tal promessa poderia significar fora do seu universo povoado por Gagarins, Shepards, Armstrongs e outros cosmonautas e astronautas, a maioria deles obscuros para o comum cidadão, mas não para ele, Tadeu, o rapaz-foguete de Nagozelo do Douro
Lembrar Saramago e os Deveres Humanos
Naquele dia 10 de dezembro de 1998, assinalavam-se também exatos cinquenta anos sobre a assinatura da Declaração Universal dos Direitos Humanos, e muito se comemorava a efeméride, mas José Saramago fez questão de sabiamente lembrar que "a atenção se cansa quando as circunstâncias lhe pedem que se ocupe de assuntos sérios"
Cacilda e Abílio
Diz-se que, até meados dos anos noventa, vinha gente de todo o lado para experimentar a feitiçaria oral da Cacilda. O meu tio, que há dias visitei no lar dos Guindais, e que não fossem as artroses estaria ainda a servir finos, tintos e favaios, diz que apareciam até chineses e americanos
Os braços cheios de saudades de abraçar “Os Amigos do Gaspar”
Através de uma breve análise de conteúdo do único caso que conheço, e que conta já com alguns encontros realizados, apercebi-me de que, agora que já podemos sair à rua e encontrar pessoas, o que mais falta nos vai fazer é aquilo que os nossos braços já choram desde que nos fechámos em casa: a falta de abraços
O Faroleiro da Ilha de Pérvio Parálio
Não sei se foi maior surpresa saber da existência da ilha ou de que nela vivia alguém. O faroleiro mora num sítio tão pequeno e despovoado e ainda assim não há carta que me escreva – e é a cada mês que há quase três anos nos correspondemos – em que não se mostre irritado com alguém
Em português soa muito melhor
Diziam-nos que o português não era orelhudo, por isso escrevemos uma em inglês e eu também a recordo ainda. Não soava mal (também não soava bem), pelo que rapidamente tomámos uma decisão. Mas já lá irei
Sra. D. Maria Laudecena Farta de Carnes
É gente de índole cabotina a que se dedica àquela boataria reles das pedras roubadas e, imagine-se, a aspergir pelas goelas imundas que ela, uma senhora da sua condição, vive há décadas amantizada com o tendeiro
O Lugar Sem Nome do Doutor Adalberto
Renunciando a todo o nada que lhe sobrava, ali se isolou o doutor Adalberto depois da fatalidade. Continua a escrever histórias para os netos e, a troco de pacotes de leite ou arroz, a dar consultas de Casualidade, esperando o acaso e que este o faça reencontrar a família depois de partir
Os nossos livros
A biblioteca de cada um é um conjunto de lugares simbólicos, insubstituíveis; é um espaço sagrado que nos alicerça e conforta, ao qual queremos sentir que podemos voltar sempre que quisermos ou entendermos necessário; o lugar mais valioso na casa de cada um, mesmo que confinada a uma estantezeca com ar caduco
A felicidade está na Suíça e na clandestinidade
A D. Elvira também não sabe que eu sei que ela atua diariamente na clandestinidade. Quando acaba o noticiário da hora de almoço, e já comido o cozinhado que inicia às onze e meia em ponto, sai de casa com uma discrição que não escapa ao meu ouvido e desliza até ao café
Os escritores morrem menos, mas quando morrem queremos ser todos avestruzes – as mortes de Rubem Fonseca e Luis Sepúlveda
Não morrem com menos frequência do que todas as outras pessoas, claro está. Mas é facto também que a morte de que morrem, sendo igual na sua natureza, isto é, sendo provocada por enfarte, cancro, acidente de viação ou por um vírus malfazejo, não o é na sua efetividade
A primeira coisa a fazer
E o Tozé, para quem a cortesia não é coisa de somenos, devolveu o gesto, juntando as mãos em frente ao peito e eu, parvamente olvidando que a TV da aldeia é a mesma da cidade, fiquei a perguntar-me onde teria ele aprendido aquilo