No fim de semana passado, a manifestação de professores reuniu, de acordo com os organizadores, 100 mil pessoas em Lisboa; para a Polícia de Segurança Pública, terão sido cerca de um terço, 30 mil, a descer a Avenida da Liberdade em direção ao Terreiro do Paço. Os números têm a sua importância, claro, mas o que aqui mais interessa salientar é a perceção. E o que as imagens de sábado fazem lembrar são as imagens de três manifestações dos últimos 15 anos: a manifestação de professores contra a avaliação de desempenho proposta pela ministra Maria de Lurdes Rodrigues (em 2008), a manifestação da Geração à Rasca (em 2011, no segundo governo de José Sócrates: “Que mundo tão parvo/ Onde para ser escravo é preciso estudar”) e a manifestação Que se lixe a troika! (em 2012, depois de Passos Coelho anunciar as alterações à Taxa Social Única).
Vai uma autoestrada, se atendermos aos participantes e aos motivos destas quatro manifestações. Mas, se atendermos ao ar dos tempos que revelam, por todas elas perpassa um enorme desalento com o qual, politicamente, os governos (o vigente, os passados e os futuros) terão sempre muita dificuldade em lidar: em todas aquelas vozes, ressoam palavras de ordem zangadas e indignadas; em todos aqueles protestos, ressoa raiva e ressentimento. São gritos e clamores de quem, legislatura após legislatura, se sentiu desprezado e esquecido – e que, agora, muito justamente, quer ser ouvido, custe o que custar.