Quando fala de forma descontraída, o primeiro-ministro António Costa tem tendência para “comer” algumas sílabas das palavras. Exceto – não sei se já reparou – quando está irritado. O nível de subida da irritação é perfeitamente audível nos debates parlamentares, quando pronuncia, na perfeição, a última sílaba de cada palavra. E as palavras que terminam na letra “L” têm direito a uma sílaba extra: “O senhor deputado está a conduzir o debate para um lamaçale!” A crispação do primeiro-ministro, visível na primeiro dia da discussão sobre o Orçamento do Estado ( em que nos deram muita música”…), revela um governante com crescente falta de paciência para aturar a oposição, o que se vai refletindo em falta de urbanidade. Mas esta notória tendência de Costa para substituir a sua anterior bonomia por uma maior crispação é humanamente compreensível. Os tempos de governação são incertos, vem aí – desta vez é que é – o diabo e o Governo pouco pode fazer para o barrar. Deve ser stressante… No segundo dia de discussão orçamental, Fernando Medina falou da necessidade de reduzir a dívida – “sem prejuízo” de fazer despesa para mitigar os efeitos da crise – mas avisou a esquerda de que não está disposto “a vender ilusões”. Esta expressão deve ser aqui traduzida da seguinte maneira: é impossível satisfazer as exigências de Bloco e PCP e repor, por via orçamental, o poder de compra dos portugueses. O empobrecimento é a fruta da época, e não há forma de o evitar. Outra coisa, é mitigar os seus efeitos: de quantos programas “As Famílias Primeiro” iremos precisar? Com um cenário macroeconómico considerado otmista por todos os analistas – e , em todo o caso, mais otimista de que os de todas as previsões de entidades independentes -, o Governo dificilmente escapará a ter de apresentar um Orçamento retificativo, em 2023.
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