“Num mundo em que surgem fissuras cada vez mais profundas entre perspetivas políticas, culturais e ideológicas, a feira do livro cria espaço para um intercâmbio pacífico e democrático”. As palavras são de Karin Schmidt-Friderichs, presidente da Associação Alemã de Editores e Livreiros, ontem, na conferência que assinalou o início da Feira do Livro de Frankfurt, que hoje abre portas ao público. Aquela drigente não se ficou por aqui nem ficou sozinha. A ela juntou-se, na ocasião, o autor britânico-paquistanês Mohsin Hamid e ambos desafiaram a indústria do livro a condenar as trincheiras, tendências divisórias, antidemocráticas e discriminatórias e criar o “contrapeso” no mercado editorial que promova a compreensão mútua internacional.
Pode o livro ser essa “ilha” de decência ou talvez a ponte que aproxima universos reais e digitais cada vez mais tribais? Respigo uma notícia que marca a atualidade e vai ao desencontro das palavras escutadas no certame literário: a da rapariga de 16 anos morta à pancada por se recusar cantar um hino de apoio ao regime iraniano. “O mundo é um plágio grotesco da sua inteligência primeva” escreve Rosa Alice Branco – e até parece redigido de propósito – nas páginas do seu último livro de poemas, Amor Cão e outras palavras que não adestram (Assírio e Alvim).