“Às nossas sociedades hipertecnológicas faltam os protocolos de encontro que integravam, com a maior naturalidade, o quotidiano das sociedades primitivas […] Percebe-se que acolher implicava escutar o outro em profundidade. É isso que está em jogo num genuíno encontro. As fórmulas podem ser mais longas ou mais breves, mas o fundamental é que um espírito de cerimónia persista, pois ele humaniza as nossas trajetórias. […] Na Bíblia hebraica encontramos o «Quem és? De onde vens? Para onde vais?» trocado, com cordial curiosidade, entre viandantes. São perguntas que podem parecer demasiado grandes, é verdade, mas não podemos desistir delas, pois oferecem-nos caminhos de avizinhamento ao mistério que o outro é, num tempo em que vemos a estranheza a crescer”.
A reflexão é do Cardeal D. José Tolentino Mendonça e bastante pertinente para olharmos para o que aconteceu esta sexta-feira, 24 de junho – por coincidência, quatro meses precisos após a invasão da Ucrânia por parte da Rússia – nos EUA. A reversão da decisão que sustentava o direito ao aborto, estabelecida em 1973 no caso Roe vs Wade, atira milhões de mulheres para uma situação crítica naquela que sempre foi considerada a maior democracia do mundo. Mas será mesmo?