Cristiano Ronaldo vai ter direito a mais uns recordes e a participar no seu quinto campeonato do mundo. Fernando Santos agradeceu o apoio dos portugueses e prometeu-lhes o título máximo do futebol. Bruno Fernandes, sem jogar grande coisa, marcou dois golos. Os 50 mil adeptos que foram ao estádio do Dragão ficaram com recordações para o resto da vida. Marcelo Rebelo de Sousa, à semelhança de uma castiça figura portuense, fez também de emplastro e apareceu na chamada flash interview para perorar à moda dos comentadores desportivos. Milhões de portugueses ficaram emocionados com o hino nacional e com a vitória de Portugal sobre essa grande potência do desporto-rei que é a Macedónia do Norte. E pronto, com o patrioteirismo do costume, este país à beira mar plantado está qualificado para o torneio que se vai disputar pela primeira vez num país árabe. O jogo inaugural realiza-se a 21 de novembro e a final a 18 de dezembro, datas originais para uma competição que é suposto zelar pela saúde dos atletas e do público. E, já agora, pela verdade desportiva. Sucede que o Catar ganhou a organização do Mundial de forma ostensivamente ilícita. Pelo menos 15 dos 22 dirigentes federativos que em 2010 votaram a favor do reino controlado pela família al-Thani estão hoje detidos ou acusados de corrupção. Na última década, este pequeno reino das Arábias tornou-se o paradigma do sportswashing, termo inglês que designa a instrumentalização do desporto para branquear a imagem de algo ou de alguém. Quem manda em Doha, a capital do emirado que possui as maiores reservas mundiais de gás natural, é especialista nesta estratégia de soft power que passa igualmente pela Al Jazeera, pelo Paris Saint Germain, pelo Qatar Investment Authority (QIA, um dos fundos soberanos mais opacos do planeta) ou pelas participações na estrutura acionista de empresas como a Volkswagen, o Barclays, a Rosneft, o Corte Inglês ou a EDP.
VISÃO DO DIA: Já chegámos ao Catar?
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