Há “celebrações” que tempos de guerra ganham redobrado significado. Celebração com aspas, bem entendido, porque em boa verdade não há nada para celebrar. Faz hoje precisamente oito anos que a Rússia oficializou o que chamou de “reintegração da Crimeia na Federação Russa”. Aconteceu a 18 de março de 2014, dois dias depois de serem conhecidos os resultados do referendo feito no território ucraniano, cujo resultado foi favorável à anexação, num plebiscito condicionado e não reconhecido pela comunidade internacional.
Em pela Guerra da Ucrânia, a data não passará despercebida. A Rússia marcará a data com eventos e discursos, mas já foi anunciando o tom: “Quer gostem ou não, o futuro da Crimeia será para sempre com a Rússia. A questão está completa e irrevogavelmente encerrada”, disse uma porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros.
A Crimeia é em tudo simbólica, e sintomática das aspirações imperialistas que povoam a cabeça de Putin. Situada num ponto estratégico, sempre foi território disputado que servia de fronteira entre o ocidente e a região a norte do Mar Negro. Em 1783, foi anexada pelo Império Russo, e depois da Revolução Russa de 1917, tornou-se uma república autónoma dentro da República Socialista Federativa Soviética da Rússia. Depois de Kruschshev dar início a uma era menos repressiva na União Soviética e ter encetado a grande deStalinização do país, a Crimeia foi, em 1954, transferida para a República Socialista Soviética da Ucrânia, de forma a reforçar a “grande e indissolúvel amizade” entre os dois povos russo e ucraniano. Putin fez o movimento inverso. Justifica com uma desnazificação da Ucrânia o que na verdade se trata de uma reStalinização da Rússia.
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