Prestam-se a muitas discussões e mal entendidos as várias palavras acabadas em ‘ismo’. Algumas entraram no discurso quotidiano da era das redes sociais e do excesso de diretos televisivos da pior maneira. Uma: surrealismo. Hoje, tudo o que escape minimamente às rotinas e ao ramerrame é… “completamente surrealista”. Vítimas ou testemunhas de um pequeno acidente na estrada falam para a câmara em direto e depois do clássico “não há palavras…”, pensam um pouco mais e dizem: “Foi surrealista!”. Não foi. Surrealista era terem um anjo bêbado na bagageira e, depois do acidente, verem póneis a voar com cabeças de bailarinas do Bolshoi. Outra palavra, esta ainda mais vulgarizada e irritante: positivismo. Ser “positivista” perante a vida e as adversidades, partilhar “positivismo” a rodos nas redes sociais! Não tentem usar uma palavra cara, escrevam só “positivo” e fica tudo muito bem. Usem “positivismo” só se quiserem mesmo falar da atitude filosófica muito em voga no século XIX, com Auguste Comte como grande paladino, que via no saber científico, comprovável, a única forma de conhecimento e progresso, contra crenças subjetivas e crendices ou espiritualidades transcendentais.
Para quem está a achar (e bem) que esta newsletter não tem nada que ver com a atualidade, vou direto ao assunto. Estou a pensar numa terceira palavra: socialismo.