Na avalanche informativa que diariamente nos esmaga há sempre notícias que passam despercebidas. Para a esmagadora maioria das pessoas, o grande acontecimento de 2001 foi – compreensivelmente – o ataque terrorista às Torres Gémeas e ao Pentágono, a 11 de setembro. No entanto, a 11 de dezembro desse ano, houve um outro facto que acabaria por moldar o mundo: a entrada da República Popular da China na Organização Mundial do Comércio – algo que viria a acelerar, de forma irreversível e vertiginosa, a globalização a que assistimos nas últimas duas décadas. O ano que agora finda, aparte as novelas domésticas como o chumbo do orçamento, fica marcado pelo ataque ao Capitólio, pela reconquista do Afeganistão pelos talibãs, pelo bloqueio do Canal do Suez, pela instrumentalização dos fluxos migratórios pelo tirano da Bielorrússia, pelas novas tensões no estreito de Taiwan e et cetera.
É muito pouco provável que o novo plano de investimentos da União Europeia (UE), anunciado esta semana e batizado como “Global Gateway” ou “Ponte Global”, faça parte da “lista oficial” dos grandes temas de 2021. Em primeiro lugar porque estão em causa “apenas” 300 mil milhões de euros até 2027. Em segundo, falta-lhe, na forma e no conteúdo, o alcance estratégico do Green Deal ( o pacto ecológico dos 27 contra o aquecimento global). Por fim, a UE tem um enorme défice comunicacional de que se aproveitam todos os apóstolos do euroceticismo. Para zurzir o projeto apresentado esta quarta-feira por Ursula Von der Leyen, a Presidente da Comissão, a Economist foi lesta em publicar um artigo no seu site cujo título fala por si – Why bullshit rules in Brussels – (Como as tretas imperam em Bruxelas, numa tradução eufemística).