Tal como há um ano, António Costa veio assegurar que as negociações com a esquerda parlamentar, com vista ao Orçamento do Estado para 2022, estão sobre rodas. É uma boa estratégia: atirar para o BE e o PCP o ónus de ter de explicar um diferente estado das coisas até aos finais de novembro, quando for a votação final do documento. Em outubro de 2020, a dias de ser entregue a proposta orçamental no Parlamento, o primeiro-ministro sabia – melhor do que ninguém – que não estavam “criadas as condições” para haver um acordo com os antigos parceiros da “gerigonça”, tal como afirmava como veemência. A diferença entre aquela realidade, que acabou por ser desmentida com o voto contra de bloquistas, e a atual, em que os partidos dizem claramente que há muito a separá-los, é que do BE está a vir uma outra forma de comunicar aquilo que pode ser uma eventual repetição da posição da sua bancada, após ter ficado, há 12 meses, com aquela indesejável imagem – aos olhos do cidadão que aplaudiu a solução governativa de 2015 – de que estava a saltar fora de um suposto acordo que o primeiro-ministro dava publicamente como certo. Desta vez, horas depois de o líder parlamentar do BE e a própria terem admitido que mais uma vez as negociações não estão a evoluir, Catarina Martins apostou em mostrar, ontem, o que o BE quer e levou para a mesa de reuniões – porque há um ano, ia-se sabendo de forma solta apenas qual esta ou aquela medida que estava engulhar um eventual acordo.
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