Foi numa conferência do Clube dos Pensadores, no Porto, que o então ministro Miguel Relvas ouviu a primeira “grandolada” de protesto contra a política do Governo de Pedro Passos Coelho. Nas semanas seguintes, vários membros do Governo viram sair-lhes ao caminho grupos de manifestantes a cantar o célebre tema de José Afonso, “Grândola Vila Morena”. A presença de espírito de Miguel Relvas só foi traída pela desafinação completa, quando se juntou aos manifestantes a “assassinar” o “Grândola”. Do mesmo modo, o vice-almirante Gouveia e Melo, quando confrontado, em Odivelas, perante um grupo de negacionistas da Covid-19 e das vacinas, aos gritos de “assassino, assassino!”, talvez devesse ter-se-lhes juntado, gritando, a plenos pulmões, “assassino, assassino” e, depois, em declarações à imprensa, ter-se congratulado pelo apoio daquela gente na luta contra “o vírus assassino”.
Não pretendo comparar as “grandoladas” ao tipo de protesto dos “chalupas” com que, por exemplo, Ferro Rodrigues foi confrontado, esta semana. Como bem observa o jornalista e meu camarada de redação, Nuno Aguiar, no programa Olho Vivo desta semana, as grandoladas eram entoadas num contexto em que os alvos de protesto apareciam no desempenho de funções oficiais. Ou seja, Miguel Relvas e outros governantes não eram incomodados quando estavam a almoçar em família. Além do mais, a “grandolada” não incluia insultos pessoais, alegações falsas ou ameaças de violência física.
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