Joe Berardo pode ter cometido muitos crimes – com o andar da carruagem ver-se-á no que dão as suspeitas – mas não me consta que o empresário tenha alguma vez andado de arma na mão para ajustar contas com uma mulher a propósito de desvarios amorosos. Antes que pensem que o cronista matinal endoideceu, serve a advertência para explicar que os acontecimentos dos últimos dias relacionados com a detenção de Berardo me trouxeram à memória um disco que há muito mastiga o pó cá de casa. Backstreets of Desire, do já falecido Willy Deville, é uma pérola de 1992, rock à antiga com ritmos latinos a puxar por imaginários de bandidagem, vertigens amorosas, destinos trágicos e narrativas de mulheres e homens embriagados pela vida. Nem de propósito, o álbum inclui uma faixa que vem mesmo a calhar, de seu nome Hey Joe! Ora, o Joe da canção é o tal personagem que anda desatinado, de arma na mão, a planear o crime e a respetiva fuga. “Hey Joe, para onde é que vais correr agora?”, perguntam-lhe. E ele responde que concluída a vingança, vai pegar no passaporte, dar à sola e garantir que nenhum carrasco lhe meterá uma corda ao pescoço.
Calma, não é o caso de Berardo e isto ainda é um Estado de direito. O comendador não fugiu nem, segundo o seu advogado, entrou em parafuso: está calmo e sereno, garante Paulo Saragoça da Matta. Mas o rol de supostas patifarias cometidas pelo empresário e pelo seu advogado é extenso e agora até o filho do comendador está entre os arguidos. Pelos vistos, há matéria abundante para falarmos de burla qualificada, fraude fiscal qualificada e branqueamento de capitais, falsidade informática, falsificação, abuso de confiança e descaminho ou destruição de objetos colocados sob o poder público. O interrogatório do juiz Carlos Alexandre começou na tarde de ontem e continua esta quinta.
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