Naquela manhã, o País acordou diferente. A rotina normal já mudara há alguns dias: as escolas tinham fechado, muitas pessoas estavam isoladas em casa, os abraços e beijos deixaram de existir, começava-se a usar máscara e luvas e os eventos estavam a ser cancelados em catadupa. Naquela manhã havia, porém, mais um dado a acrescentar a este cenário: o Presidente da Republica tinha decretado na noite anterior o primeiro estado de emergência, que iria limitar, de forma inédita na história da democracia, as liberdades individuais.
É por isso que hoje o País também acordou de forma diferente. Na mensagem que Marcelo Rebelo de Sousa leu há algumas horas, anunciou que chegara a altura de acabar com essa exceção prevista na Constituição e deu sinais de que acabámos de entrar num novo ciclo. Entre estas duas manhãs, a de hoje e a de 19 de março de 2020, passaram-se 404 dias e 15 estados de emergência. Pelo meio, Portugal foi o pior no mundo em termos epidemiológicos e o vírus matou quase 17 mil portugueses e atingiu mais de 830 mil.