Habituada a encontrar saídas, Maria de Lurdes Macedo, 45 anos, sempre sentiu a urgência de ajudar os outros. “Há coisas que já nascem connosco”, afirma, apesar de não descartar a influência familiar. Seja pela educação católica ou por ser a mais nova de nove irmãos: “Quando temos uma família grande tem de haver partilha e isso fica arreigado em nós”.
Fundou a Orientar há cinco anos, em Lisboa, para dar continuidade a uma série de projetos que já estavam no terreno, deixando definitivamente para trás o Direito. A associação promove a integração socioprofissional de pessoas em risco de exclusão social, como os sem-abrigo ou desempregados de longa duração.
O Projeto Orientar assiste simultaneamente 30 pessoas, garantindo o acompanhamento necessário para a sua reinserção social. Dos cuidados de higiene e alimentação às ações de formação. Existe, ainda, uma residência de transição com capacidade para oito pessoas e um gabinete de inserção profissional. No ano passado, apoiaram 78 pessoas. “O principal problema é a falta de oportunidades no mercado de trabalho que sirvam os nossos utentes”, explica a também diretora-executiva.
O maior desafio do quotidiano é a escassez de recursos. Maria de Lurdes procura permanentemente soluções para o problema. Uma delas pode ser a loja de restauro de móveis Vintage de Coração, em Campo de Ourique. “Neste momento, já é sustentável, o passo seguinte é ser rentável”, explica. Os beneficiários restauram os móveis doados à associação para depois serem vendidos.
Mas os desafios vão além de questões materiais: “Temos de nos salvaguardar, sem nos envolvermos demasiado nas histórias que acompanhamos. Ao mesmo tempo, é indispensável criar alguma proximidade para conseguirmos ajudar. É um equilíbrio complicado”.
Inevitavelmente, o trabalho acompanha-a até casa e ressoa na memória. Como aquela jovem prostituta de rua que tinha perdido a custódia dos dois filhos. “Quando ela conseguiu reaver os meninos, tocou-nos muito.” Maria de Lurdes tem dificuldade em ver-se como uma heroína. “Eu não faço nada de mais. Só faço o meu trabalho”. Mudar vidas.