A cantora espanhola Sílvia Pérez Cruz, que já gravou com o pianista Júlio Resende, apresenta o seu novo álbum, “Domus”, na próxima semana, em Lisboa, na Fundação Calouste Gulbenkian, e em Braga, no Theatro Circo.
“O tema do disco surgiu de um filme, ‘Cerca de tu casa’ [de Eduardo Cortés], que fala dos sem-abrigo, daqueles que deixam a sua casa, por isso me centrei naquilo que sentem as pessoas quando lhes tiram a casa, que é aliás um tema muito atual”, afirmou a cantora à Lusa.
Sílvia Pérez Cruz atua na próxima quarta-feira, dia 30, no Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian e, no dia seguinte, no Theatro Circo, acompanhada pelos músicos Elena Rey e Carlos Montfort (violino), Anna Aldomà (violeta), Joan Antoni Picj (violoncelo), Miquel Àngel Cordero (contrabaixo) e, no alinhamento, irá incluir “Estranha forma de vida”, um fado de Amália Rodrigues.
Sobre “Domus” e o seu ponto de partida, Sílvia Pérez Cruz afirmou: “Tirarem a casa, não é apenas tirarem-nos as paredes, é tirarem a nossa vivência, o nosso quotidiano”.
“Tiram-nos a nossa própria pessoa, os nossos sonhos, onde os sonhámos, e temos então de reconstruir não só a casa, mas a nós mesmos”, disse.
O disco “é um alerta para todos”, pois, através da música, argumentou a cantora, “esta mensagem pode ter mais força”.
“Há tanta gente que perde as suas casas, e achei interessante e carinhoso, que nos déssemos conta deste problema”, acrescentou.
O álbum é o primeiro em que a cantora gravou em língua inglesa e tem a chancela da Universal Music.
“Domus” abre com “Non hay tanto pan” e, entre as 11 canções que constituem o álbum, contam-se “Smile and run”, “My dog” e “Ai, ai, Ai”, que surgiram naturalmente em inglês, quando as compôs, explicou, porque, nesses casos, “este era o idioma em que melhor se podia expressar”.
A cantora recordou igualmente a força dos ‘media’, nomeadamente a rádio, sendo o inglês uma língua mais universal.
Outros temas são “Todo hombre”, “De rente”, “Si se puede”, “Cerca de tu casa” e “Verde”.
Para a artista, “a música tem muito poder, mas tem de ser livre, e pode permitir uma revolução emocional, despertando as pessoas”, mas neste disco, reconheceu, fala “de uma forma mais concreta”.
“O artista deve sentir-se livre para falar do que quiser, mas principalmente com liberdade e sinceridade”, enfatizou.
A cantora, que tem uma irmã a viver há 14 anos em Monsaraz, gosta “particularmente de Portugal”, onde costuma vir passear e cantar, e lamentou “não existir uma maior aproximação entre portugueses e espanhóis”.
“Curiosamente, os portugueses conhecem muito mais de Espanha e das suas culturas, que nós, de Portugal, e isso é lamentável”, disse Sílvia Pérez Cruz, que já atuou no Festival Med de Loulé, no Algarve, onde conheceu o pianista Júlio Resende, com quem atuou na Gulbenkian e no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.
A Fundação Calouste Gulbenkian refere-se à artista como tendo uma “voz íntima, versátil e calorosa”.
“Sílvia Pérez Cruz encarna géneros musicais distintos e interpreta línguas diversas”, afirma a Fundação, que atesta que o concerto será de “emoções e sonhos”.
A Fundação salienta ainda o “carisma inato vocal” de Sílvia Pérez Cruz, e a sua presença “arrebatadora” em palco.
A espanhola afirmou à Lusa que gosta de atuar em Portugal, que “o público é supergeneroso” consigo.
Além do álbum “Domus”, Sílvia Cruz Pérez vai incluir canções do seu álbum de estreia “11 de novembre” (2012), também com letras, composições e arranjos da sua autoria.
Um dos temas deste álbum é cantado em português, “O meu amor é Glória”, sendo Glória o nome próprio da avó, da mãe e da irmã de Sílvia Pérez Cruz.
Sílvia Pérez Cruz nasceu há 32 anos, em Palafrugell, na Catalunha, estudou solfejo, piano e saxofone, entre os quatro e os 18 anos.
Começou a cantar na taberna La Bella Lola, em Calella, acompanhada pelo seu pai, o guitarrista Càstor Pérez, e fez parte de grupos de funk, bossa nova e jazz, como saxofonista, assim como do coro “Nit de Juny”, com o qual viajou para Itália, Hungria, França e Noruega.
De 2001 a 2011, experimentou estilos distintos, desde o flamenco ao jazz, passando pelo pop, a música tradicional catalã, o folclore ibérico e o sul-americano.