Ter mais mundo. Foi com esta motivação que Diana Vasconcelos, 28 anos, natural de Amarante, começou a sua jornada de viagens e voluntariado.
A viver há quase dois anos em Nairobi, no Quénia, Diana criou o projeto Há ir e voltar, que ajuda a construir escolas, transformando o sonho de diversas crianças em realidade. Começou por ter um blogue em que partilhava as impressões das suas viagens, mas depois começou a usar o espaço para relatar as condições precárias da vida e do ensino na capital queniana. Rapidamente atraiu a atenção das pessoas. No ano passado, o projeto arrecadou cerca de €34 mil em donativos para a construção de uma escola em Kibera, o maior bairro de lata de África, e apadrinhou mais de 200 crianças através da criação de micro negócios para os seus pais.
Este ano, há uma nova campanha em curso. Juntamente com outras três portuguesas, Francisca Oliveira, Diana Nicolau e Gisela Lourenço, Diana vai angariar fundos para a reconstrução de uma escola na favela de Mathare, com capacidade para 78 meninas, com idades entre os 3 e os 12 anos. As crianças são apoiadas pela Angel Girls for Educational and Rehabilitation Center, uma organização com mais de uma década que luta pela educação feminina, uma vez que no Quénia o privilégio de ir à escola é, sobretudo, dos rapazes.
À espera de uma nova escola
A nova campanha de angariação de fundos prolonga-se até o final de abril, a meta é chegar aos €20 mil. Até agora, foram angariados mais de €7 mil, com doações de quenianos, portugueses, franceses, espanhóis, norte-americanos, entre outras nacionalidades. Todos podem contribuir através do site do projeto.
“A escola das Angel Girls, em Mathare, é uma escola que, apesar de ter professoras super aplicadas e responsáveis, não tem condições físicas. Estas 78 meninas são as crianças mais bem-educadas que eu já vi no Quénia. Vivem em miséria extrema, dormem no chão, com os ratos, sem um colchão, sentam-se em cadeiras partidas e chove dentro da sala de aulas”, descreveu Diana à VISÃO Solidária.
Assim que a campanha atingir os €10 mil, a escola velha será demolida e a construção da nova começará. Além disso, dentro de poucas semanas, o Há ir e voltar vai tornar-se legalmente numa associação, o que permitirá, por exemplo, a candidatura a fundos sociais. Segundo a jovem portuguesa, muitas pessoas têm demonstrado interesse em juntar-se ao projeto no Quénia por curtos períodos de tempo e a chegada dos novos voluntários também ajudará na construção da escola de Mathare.
Vontade de mudar o mundo
Licenciada em Ciências da Comunicação na Universidade do Porto, quando Diana recebeu o convite de uma prima para trabalhar como baby-sitter nos Estados Unidos, não pensou duas vezes. Viveu oito meses em Chicago a cuidar de três crianças e ainda aproveitou para conhecer um pouco o país. De volta ao país de origem, passou um mês a fazer couchsurfing (a dormir nos sofás de desconhecidos) por Portugal e, no final de 2013, após vender alguns livros do pai, conseguiu dinheiro suficiente para viajar pela Europa.
“Eu queria mais. Fui então para a Suíça fazer limpezas numa pastelaria. Fisicamente, foi o trabalho mais difícil que já tive. Mas a ideia de ir viajar pela América do Sul mantinha-me motivada. E o salário também”, confessou Diana. Só que a vontade de conhecer a América do Sul foi adiada quando soube que a Casa da Juventude de Amarante estava a pedir dois voluntários para o Quénia durante um ano. “Sempre tinha tido vontade de fazer voluntariado em África. Era a oportunidade ideal para o fazer. Não sou casada, não tenho filhos…e um ano passa a voar!”, recordou.
Nos próximos anos, Diana Vasconcelos pretende continuar a atuar no Quénia. “Optei por fazer disto a minha vida porque me faz feliz, aqui sou útil de uma forma que não sou em mais lado nenhum. Quero dar o meu contributo ao mundo”, afirmou.
À VISÃO Solidária, Diana revelou dois projetos que gostava de concretizar no futuro: a construção de uma escola numa ilha do Quénia com 2500 habitantes (onde as crianças não têm nem sapatos e usam sacos de plástico para carregar os livros) e a venda, em Portugal, do artesanato produzido pelas mães quenianas.
“O Quénia é um país maravilhoso. Destas crianças recebo o maior agradecimento possível: uma felicidade imensa que me enche o coração. Mas, ao mesmo tempo, o Quénia roubou-me a ingenuidade de achar que o mundo é um lugar bonito. Há milhões de pessoas esquecidas aqui, têm vozes mas não são ouvidas”, desabafou.