Resultante de uma parceria entre o Hospital de Dia do Serviço de Psiquiatria do Hospital de Santarém, o Contrato Local de Desenvolvimento Social (CLDS) e a União de Freguesias da Cidade de Santarém, a Loja de Trocas foi mobilada com materiais reaproveitados por doentes do hospital de dia e são eles que estão no atendimento aos clientes e que tratam os bens entregues que necessitam de algum tipo de intervenção.
“A loja veio preencher uma lacuna que sentíamos no trabalho do hospital de dia, que tem a ver com o pós-alta. Os doentes estão estabilizados, mas depois voltam para casa e muitas vezes voltam a adoecer”, disse à Lusa Ana Mendes, a psicóloga da equipa de sete pessoas que acompanha, em média, 15 doentes no serviço de internamento parcial.
A loja, onde trabalham três doentes (uma delas em pós-alta), permite viver no concreto as competências treinadas no hospital de dia, tanto no atendimento ao público como na gestão dos stocks, havendo ainda o trabalho de retaguarda, como o que é feito na oficina de engomadoria ou a construção do próprio mobiliário a partir de paletes e de peças que se encontravam em escolas do concelho que foram encerradas.
“É importante também no combate ao estigma, porque acreditamos que iniciativas como esta, com as pessoas a sentirem-se úteis, integradas na comunidade, são das grandes armas no combate ao estigma da doença mental”, reforçou Carla Ferreira, enfermeira da equipa.
Foi de uma conversa de Carla Ferreira com a tesoureira da União de Freguesias – também ela enfermeira, agora aposentada, e antiga diretora do hospital de dia – que surgiu a parceria, em resposta ao que era o principal entrave (a necessidade de funcionários que garantissem o funcionamento) à replicação de um projeto iniciado em 2013 no bairro da Ribeira de Santarém, com grande sucesso.
“É um projeto que nos honra e que nos dá muito ânimo para continuar”, disse à Lusa o presidente da União de Freguesias da Cidade de Santarém, Carlos Marçal, realçando a crescente procura por parte dos residentes.
Vera Godinho, a animadora sociocultural do CLDS que ajudou a operacionalizar o projeto, realça o crescimento do projeto que, em duas semanas, duplicou os frequentadores, para os 40.
Teresa Pires é uma das presenças que se vão tornando habituais. Dos sacos que traz saem lençóis, roupa, pratos, alimentos, bens que Dulce Oliveira e Joana Margarido registam e a que atribuem um valor que é pago em “cabacinhas”, a “moeda social” que permitirá a troca, neste caso por bonecos.
“É o que eu gosto daqui”, disse Teresa Pires, levando várias bonecas para a coleção que tem em casa à espera de uma neta.
Já Jorge Cardoso, satisfeito com a camisola de malha que traz vestida e com as duas calças de ganga que levou da loja, junta as “cabacinhas” para quando aparecerem calças para o verão.
Para abrir, a loja contou com os bens recolhidos em campanhas realizadas em escolas e por instituições do concelho, como a Santa Casa da Misericórdia, a associação de moradores de S. Domingos e a própria junta de freguesia.
Maria João Santos, coordenadora do CLDS de Santarém, disse à Lusa que as iniciativas de intervenção na comunidade que têm surgido graças a financiamento comunitário (o projeto é inteiramente financiado pelo Fundo Social Europeu) só fazem sentido se feitas em parceria, para “rentabilizar e utilizar as mais-valias e os recursos” existentes.
Ao espaço da Ribeira, onde os bens mais procurados são alimentos, e de S. Domingos, onde a procura privilegia os produtos de higiene e os brinquedos, vai juntar-se em breve um outro na vila de Alcanede, no norte do concelho, no âmbito de um projeto para a erradicação da pobreza infantil..