António Flores, 83 anos, sabe que a doença a impedir o seu organismo de fabricar plaquetas não terá cura. Sabe, portanto, que o tempo escolherá brevemente um dia para se esgotar. Mas nem por isso conseguiu o direito a estar próximo dos filhos e netos.
Depois dos internamentos no Hospital de Vila do Conde e no Pedro Hispano, Matosinhos, onde todos os dias recebia a visita da família, António Flores passou a ver os filhos apenas uma vez por semana. A solução possível para quem trabalha e tem um familiar internado numa Unidade de Cuidados Continuados a 300 quilómetros de casa. “O percurso até Freixo de Espada à Cinta é sinuoso e são seis horas de viagem. Além de me custar quase 100 euros, tinha de deixar de trabalhar para o poder ir visitar. Há instituições mais próximas, mas não têm vagas”, contou a filha de 56 anos, Isabel Campos, à VISÃO.
Embora faça questão de salientar que a instituição da Santa Casa da Misericórdia presta um bom serviço, Isabel lamenta que os últimos dias do pai tenham de ser de solidão.
O caso de António Flores não é único, como admite o próprio Ministério da Saúde, que explica estes casos com a falta de vagas. Mas a verdade é que há mais 552 camas à espera de autorização para receber os doentes. O problema, esclarece a coordenadora para a área da saúde do PS, Luísa Salgueiro, “é a gestão das disponibilidades da rede, sobretudo nas zonas urbanas, onde há grande carência”. Um cenário mais grave sabendo-se que “há unidades prontas, mas não abrem”.
Para o presidente da Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos, Manuel Luís Capelas, tudo nasce da “falta de planificação estratégica”. Lisboa, Porto e Leiria são, para a associação, as zonas do País com pior resposta.