Já o sol ia alto, bem para lá das 10 da manhã, quando uma onda alaranjada invadiu a zona de acesso restrito da reserva natural do estuário do Douro. De luvas e sacos pretos nas mãos, o grupo de 24 voluntários do Montepio, de t-shirts cor de laranja, ouviu primeiro as explicações de Paulo Faria, técnico do Parque Biológico de Gaia, sob quem impende a responsabilidade da gestão do estuário, e começou a árdua tarefa de recolha dos muitos resíduos espalhados pelo imenso areal.
Plásticos, muitos e dos mais variados tipos, mas também outro tipo de lixo, como latas ou vidros, que desagua na foz do rio e fica à vista sempre que a maré baixa. Para as inúmeras espécies de aves migratórias que ali aportam anualmente, o trabalho dos técnicos e dos colaboradores é fundamental.
A experiência não é nova para João Campos, 38 anos, gestor na área das grandes empresas, porque há muito que a sustentabilidade é um ponto assente na sua vida. “As preocupações ambientais fazem parte do meu quotidiano e, pontualmente, participo em ações deste género”, explica. Funcionário do Finibanco, adquirido pelo Montepio em 2010, João não teve dificuldades em integrar o espírito de “um grupo cujo ADN é a economia social”.
A afirmação é sublinhada por Joaquim Caetano, técnico do Gabinete de Responsabilidade Social do Grupo Montepio, que passou o dia numa lufa-lufa entre as várias iniciativas realizadas a norte na sexta-feira (15). “O Montepio está na banca um pouco por acaso. A nossa matriz é claramente social e a banca é apenas uma forma de financiar a associação mutualista que é, de facto, o que nós somos”.
Criado em 2006, o programa de voluntariado engloba mais de 1200 dos cerca de cinco mil funcionários do grupo. O objetivo é permitir a concretização de projetos promovidos por várias IPSS mas que estas nem sempre conseguem concretizar por falta de meios humanos ou financeiros. Além disso, possibilita também a promoção e desenvolvimento de competências profissionais e pessoais junto dos voluntários.
Terceira edição do Dia do Voluntariado
Para esta terceira edição do Dia do Voluntário do Montepio apenas foram destacados 400 colaboradores que se espalharam por 23 ações solidárias de norte a sul do País, incluindo as regiões autónomas. Como acontece sempre antes de cada iniciativa, é necessário proceder a uma seleção prévia até porque é fundamental assegurar o regular funcionamento de cada departamento.
Divididas entre as de caráter social, ambiental, proteção animal e cultural, as ações são antecipadamente selecionadas pelo GRS, sob a direção de Paula Guimarães. “Ao todo temos cerca de 16 a 18 programas anuais de cariz social. A questão é que não fazemos grande publicidade do assunto, preferimos manter uma atitude mais discreta. É a nossa maneira de ser”, justifica Joaquim Caetano.
A abertura oficial do 3º Dia do Voluntariado do Montepio arrancou ainda antes das ações de rua. Na véspera, em colaboração com quatro instituições da cidade do Porto – Exército de Salvação, FAS, o CASA e os Meninos de Rua – foi organizado um jantar para cerca de 80 pessoas institucionalizadas.
Entre as várias iniciativas realizadas no Porto, e além da limpeza do estuário do Douro, a VISÃO acompanhou também um ateliê de fotografia inclusiva. Com a colaboração da Serve The City, uma rede de voluntariado, vários sem-abrigo e alguns colaboradores do Montepio receberam uma pequena formação prática e depois partiram para a rua, aos pares, para fotografar o que lhes apetecesse. “A ideia não é ensinar ninguém a fotografar mas aprender a olhar, perceber o olhar do outro que vai connosco”, explica Alfredo Abreu, sociólogo, e responsável pela Save The City.
Reunidos numa das salas do Atmosfera M, a sede do Porto do grupo Montepio, os 12 colaboradores-voluntários e os três sem-abrigo selecionaram quatro das melhores imagens que recolheram e o júri elegerá depois duas dessas de cada grupo para organizar uma exposição que ficara patente nas instalações. Ou, como resumiu Alfredo Abreu, “são pequenos contributos para ajustar o nosso olhar sobre o mundo”.