Este é um tema a que gostaria de consagrar muitas crónicas. Dedico-me há já alguns anos à gestão de voluntariado e à coordenação de voluntários e voluntárias. Fui aprendendo algumas coisas neste período e, de todas, destaco uma fundamental: os projetos ou programas de voluntariado não nascem de “geração espontânea”. Ou seja, o voluntariado, enquanto processo organizado num programa ou projeto, desenvolve-se de forma planeada, com um sistema ordenado e com possibilidade de ser avaliado e melhorado. Dar início a uma qualquer atividade de voluntariado sem planeamento e sem uma gestão entregue a alguém capaz é começar mal uma boa coisa.
Mas o que é a gestão de voluntariado? Defino a gestão de voluntariado como o sistema que faz coincidir as necessidades da organização e a vontade de pessoas que se voluntariam, de forma positiva para todos envolvidos, dando uma resposta útil e organizada à sociedade. É uma espécie de “gestão de recursos humanos” e, na verdade, vários conhecimentos desta área podem ser replicados no voluntariado, com limites.
Se é certo que alguns instrumentos podem ser usados, existe uma base grandemente diferenciadora: no voluntariado as pessoas trabalham sem remuneração e por escolha livre. Fazem-no cheias de vontade, energia e sem ser necessário recorrer aos incentivos ou fatores motivacionais que se encontram na gestão de recursos humanos. Quem gere recursos humanos sabe que a motivação é um dos pontos mais importantes e complexos. Sem motivação, as pessoas até podem cumprir horários, mas não são produtivas nem dedicadas e, muitas vezes, transformam-se numa má imagem da própria organização. Os aspetos que mais motivam as pessoas não são os materiais, mas sim de íntimo humano e pessoal, do sentido do que fazem. No voluntariado, com uma boa gestão, as pessoas cumprem os objetivos e acrescentam valor às atividades, encontram com facilidade a motivação necessária e ligam-se a uma causa que passa a ser delas.
No entanto, é redondamente enganador pensar que não existe trabalho de motivação a fazer na gestão de voluntariado. Na realidade, uma importante parte da gestão de voluntariado é trabalhar a motivação. É verdade que o maior volume da motivação é a ação em si, mas isso não basta para reter voluntários e voluntárias ao fim de algum tempo. Existem várias formas de trabalhar a motivação no voluntariado e este deve ser um trabalho sistemático e sem fim. Por exemplo, o reconhecimento (que pode adotar várias formas) deve ser uma técnica sempre presente. Noutros casos, sobretudo em voluntariado especializado, o que esses voluntários e voluntárias precisam é que a gestão seja eficaz e não os faça perder tempo com má organização e indefinição de objetivos e tarefas. A gestão do voluntariado deve também dar feedback, mostrar os resultados alcançados, partilhar conquistas e mostrar que o trabalho realizado é importante e teve impacto. Mas para isso é necessário um sistema de gestão do voluntariado bem montado.
Penso que o voluntariado, que veremos nos próximos anos, será assumido por pessoas que vão exigir ser muito bem geridas, percebendo que o seu tempo é bem utilizado. Na gestão de voluntariado, o maior recurso disponível são as pessoas. Ignorar isto é ignorar a própria sustentabilidade de um projeto ou programa. Pessoalmente, como gestor de voluntariado e formador no tema, a minha maior satisfação, alegria e realização, é poder gerir pessoas que escolheram emprestar-me o seu tempo e habilidades, confiando a mim as suas vontades.