‘Paga a conta da água’
FÁTIMA PEREIRA 51 ANOS, COSTUREIRA NUMA EMPRESA DE COMPONENTES DE AUTOMÓVEIS (SÃO JOÃO DA MADEIRA)
“Na verdade, estes 20 euros são uma esmola, uma ninharia. Darão, talvez para pagar a água mas apenas porque vivo sozinha, senão nem para isso davam. Sou divorciada e os meus filhos, um com 32 anos e outro com 20, emigraram para a Suíça. Pago 350 euros da prestação do apartamento e quando chega o dia 5 ou 6 de cada mês já estou ‘descalça’. A alimentação é uma ginástica, às vezes como uma lata de atum, outras vezes uma de salsichas, noutros dias um ovo. Estou há 23 anos na empresa e já tenho problemas de saúde, o mais grave são as tendinites que me limitam muito os movimentos e me impedem já de fazer alguns trabalhos. Com os lucros que tem, a empresa bem podia pagar bastante mais mas não o faz porque não quer. Só aumenta mesmo por decreto.”
‘Meio mês de pão’
LUÍS MOREIRA 41 ANOS, ASSISTENTE AUXILIAR DE RECOLHA DE LIXO (CASTELO DE PAIVA)
“Olhe, dá para meio mês de pão ou para ir cortar o cabelo mais vezes, porque gosto de andar com ele curtinho. Trabalhei 14 anos na C&J Clark a multinacional de calçado que abandonou Castelo de Paiva em 2003, tal como a minha mulher e quando aquilo fechou ficamos os dois desempregados. Hoje, estou como assistente auxiliar, na recolha de lixo, a receber o salário mínimo. Passei a efetivo há sete anos e foi pegar ou largar. Quando assinei o contrato disseram-me logo: é pelo salário mínimo, se quer, quer, se não não falta quem queira. Tenho uma filha com 14 anos e não tive mais porque não posso suportar os gastos mas gostava de ter tido mais filhos, como o meu pai, que teve treze. Depois de pagar a casa e o resto das despesas não me sobra nada”.
‘Ajuda na conta da água’
HUGO FERRAZ 27 ANOS, AUXILIAR DE AÇÃO MÉDICA (PORTO)
“Se formos a ver bem, o Governo não nos está a dar nada, depois de tanto que nos tem tirado com os impostos isto é quase uma esmola. Fiz o 12.º ano mas não prossegui os estudos e comecei a trabalhar aos 19 anos. Sou auxiliar de ação médica no Hospital das Forças Armadas, depois de lá ter estado anteriormente ao serviço de uma empresa de trabalho temporário. Desde junho de 2013 que estou a receber o salário mínimo, e passo os recibos verdes ao próprio Estado, que é o proprietário do hospital. Há dois anos, optei por sair de casa dos meus pais e, hoje, estou a viver com a minha namorada numa casa com uma renda baixa porque a senhoria é uma senhora amiga. Mesmo assim, as despesas são muitas e é difícil viver com um salário tão baixo. Este aumento dá-me, talvez, para ajudar na conta da água. A verdade é que como a minha namorada está desempregada agora e as perspetivas não são famosas, estamos a equacionar seriamente emigrar.”
‘Mais um pacote de fraldas’
FÁTIMA SILVA 32 ANOS, COSTUREIRA TÊXTIL (SANTA MARIA DA FEIRA)
“Trabalho há 17 anos na mesma empresa de vestuário como costureira. A verdade é que já estou atualmente a receber 505 euros, o valor do atual ordenado mínimo, porque a empresa tem dado aumentos de cinco euros por ano nestes quatro anos em que o salário esteve congelado. Tenho duas filhas e, neste momento, o meu marido, operário da construção civil, está desempregado. O meu salário é quase todo para pagar as prestações da casa e do carro que tive de comprar, porque não tenho transportes públicos de casa até à empresa. O meu marido já esteve emigrado dois anos e anda à procura de uma oportunidade para voltar a sair do País porque, por cá, é difícil viver. Eu não vou sentir o aumento pelas razões que expliquei mas esse valor, que, com os descontos, nem chega aos 20 euros, dá-me para uma embalagem de fraldas de marca branca para a minha filha mais pequena, de um ano, e para a pomada para as assaduras. Não dá para mais.”
‘Dá para a gasolina’
MANUEL ADELINO 58 ANOS, PEDREIRO (CASTELO DE PAIVA)
“Trabalhei na construção civil mais de 30 anos mas nunca ganhei mais de 500 euros, apesar de ser um setor que, nos tempos de fartura, pagava bem. Depois veio a crise e eu, tal como muitos, também fiquei desempregado. Foi nessa altura que me candidatei a um concurso para pedreiro, na Câmara de Castelo de Paiva. Estou efetivo há sete anos, a receber o salário mínimo. Sou casado e tenho duas filhas já crescidas e duas netas. Este aumento é pequeno, dá para quê? Olhe, dá para uns quatro maços de tabaco ou para a gasolina mensal que gasto com a motorizada para vir de casa até ao trabalho todos os dias.”
‘Para tomar o café’
CONCEIÇÃO MOREIRA 47 ANOS, FUNCIONÁRIA DE LIMPEZA (MATOSINHOS)
“Este aumento é muito pequeno, mas migalhas também são pão. Eu, para conseguir ganhar vinte euros, preciso de trabalhar mais de um dia inteiro. Fiquei viúva aos 28 anos, sozinha e com dois filhos. Hoje, eles já estão crescidos e eu vivo só com o mais novo e com o meu companheiro mas preciso de trabalhar desde as seis e meia da manhã até às sete e meia da noite para conseguir pagar os 270 euros de prestação da casa e o resto das despesas. Faço seis horas ao serviço de uma empresa de limpeza e depois mais umas horas noutra, para conseguir ganhar o salário mínimo. Estou nisto há mais de vinte anos mas também já trabalhei num café e fiz outras coisas que me foram aparecendo. Olhe, se calhar, dá-me para pagar o café que tomo todos os dias de manhã e, como eu costumo dizer ‘para onde vai este dinheiro, não vai outro'”.
‘Ajuda na compra do passe social’
LUÍS SOUSA 18 ANOS, CANTONEIRO NUMA EMPRESA PRIVADA (PORTO)
“Só comecei a trabalhar esta semana e, por isso, não posso falar de aumento. O meu primeiro salário vai ser já de 505 euros. Mas esses 20 euros dão uma ajuda para a compra do passe social, que custa 27 euros. Estou a trabalhar porque este ano não consegui a média de 14,5 para entrar no curso de Gestão Desportiva, na Faculdade de Desporto do Porto. Fiquei a duas décimas! Mas quero voltar a tentar para o ano e, para não estar desocupado, decidi trabalhar para arranjar dinheiro para as propinas, que ficam por 240 euros a cada dois meses, e para comprar um carro. Inscrevi-me no centro de emprego mas não me chamaram. Tive conhecimento de que esta empresa de limpeza estava a recrutar gente e concorri. Estou com contrato de três meses renovável. O serviço é duro mas se der para conciliar com os estudos vou mantê-lo.”