Nos últimos meses tenho-me sentido um pouco estranho, falta de motivação, “tristeza” de uma forma geral, poucos são os momento em que me sinto confiante e “feliz”.
Este tipo de sentimento surgiu há alguns meses atrás. Não dei relevância, pensei que era passageiro. Mas o tempo vai passando e parece que piora. Não sei se é depressão ou alguma outra coisa. Também sinto algum cansaço e nem as férias trouxeram o descanso que sinto precisar.
Prefiro ficar sozinho do que acompanhado, sobretudo se estou perto de pessoas mais chegadas, o que, para mim, não faz sentido nenhum. Não tenho qualquer problema com familiares. Não sei a quem me devo dirigir: psicólogo, psiquiatra ou medicina geral?
A primeira recomendação, a partir dos seus dados, é consultar o clínico geral que o acompanha, sobretudo se já não faz análises clínicas há mais de um ano, e assegurar-se, assim, de que os sintomas de mal-estar não constituem um sinal de problemas no plano fisiológico que justifiquem a prescrição de um fármaco. Eventualmente, o clínico pode referenciá-lo para uma consulta do foro psicológico ou, se houver indicação para isso, pode prescrever suplementos alimentares ou medicação antidepressiva.
O regresso de um período de férias pressupõe uma readaptação às rotinas (laborais, domésticas, familiares), que pode trazer consigo algumas inquietações e alterações de humor, associadas, o mais das vezes, a assuntos que ficaram pendentes durante o período de descanso, ou que vêm sendo adiados (decisões de fundo, insatisfações que se vão gerindo, sem “fazer ondas”, etc).
Se esse período, geralmente transitório, começar a prolongar-se – o estado de fadiga, a desmotivação, o não querer estar acompanhado – deve merecer a sua atenção, na medida em que pode mascarar preocupações ou situações de insatisfação consigo ou na relação com os outros, nem sempre conscientes, e que se traduzem, com frequência, em mal-estar emocional. Por vezes, tem na base uma crise pessoal ou um quadro depressivo (bom prognóstico, se numa fase inicial).
Mesmo sem ter a indicação clinica para psiquiatria ou psicologia (um psicólogo não prescreve medicamentos), o facto de ter necessidade de isolar-se por mais tempo do que entende razoável sugere que o faça. O campo da intervenção psicológica é vasto. A área clinica oferece opções de intervenção que vão desde o treino motivacional e de competências à análise de aspectos mais profundos, ligados a dificuldades sentidas nas dimensões funcional, afectiva, emocional ou envolvendo questões de identidade, crenças limitadoras e /ou crises de vida.
Caso decida marcar uma consulta de psicologia e a avaliação feita ir no sentido da necessidade de acompanhamento psicológico (uma psicoterapia, geralmente com periodicidade semanal ou quinzenal), pode precisar de uma declaração/prescrição de um médico psiquiatra para efeitos de comparticipação do seu subsistema de saúde (seguradora, ADSE, SAMS, etc).
Clara Soares, jornalista, psicóloga e autora do blog Psicologia Clara