É doentiamente branda, ignorante e pobre a sociedade civil, quando os cargos para os quais as pessoas são escolhidas se abandonam por consciência e se deixa nos seus lugares quem nunca foi para os mesmos votado. Mas a consciência também é uma fabricação, tal como os interesses por detrás dela.
O PSD não pode perder as eleições de 2015, mas também o PS não se pode permitir não voltar ao poder. Poder e povo não são a mesma coisa, pois só é legítimo o poder que nasce, se exerce e se devolve com e para o povo. Julgo patético que alguém possa agir convencido que um Dom Sebastião deva agora irromper do PS, do PSD ou de qualquer outro partido. Há muito mais território humano para lá do pasto partidário.
Os partidos perderam credibilidade porque o povo deixou de estar no centro de si mesmos. Uns dizem-se verdadeiros, rigorosos, outros são ditos populistas, irresponsáveis. Mas a verdade e o rigor que não sejam populistas, também não servem o povo. O que será a verdade e o populismo? Quem os inventou e tornou bitola de alguém?
E venham de lá os mesmos de há 40 anos, seus filhos e netos, tios e primos, afilhados, padrinhos e madrinhas, venham de lá, pois o povo continua brando, ignorante e pobre. E até que assim se mantenha, a política em Portugal não será mais que espetáculo de arena, de estádio, passeio de ilusões terapêuticas por qualquer shopping centre.
Há 3 anos que oiço Medina Carreira. Mudam os convidados, mas a conversa, os gráficos… repetem-se, repetem-se… enfadonhos, nauseantes. Diz-se que a despesa tem que sofrer um corte de cerca de 8 mil milhões de euros. Diz-se não haver dinheiro capaz de manter o estado atual das coisas. O Estado não tem dinheiro, mas há quem o tenha. E até que os portugueses, começando por quem mais tem, não ousem loucamente partilhar o que amealharam, o Estado será sempre o ladrão depenado, aquela ave de rapina que nunca nada vai ter para distribuir equitativamente, vagabundeando.
Digamos ao Medina Carreira que os que residem em Portugal até têm muito mais que 10 mil milhões de euros. O Estado é que não. Mas ao Estado compete dar. Ele que dê. Mas quem é o Estado? Quem são os que efetivamente o depenam do que não tem para dar? Os pobres? Urge a Fraternidade! Urge um novo caminho! O capitalismo, o socialismo, o comunismo, o religioso, o ateísmo, o nacionalismo, o fascismo, tal como o foram, são já hoje páginas de livros de um tempo, bafientas, cujo destino ou fim prometido das suas histórias, outro não foi que o de infinitos saques e derramamentos de sangue.
O Ocidente ainda não soube ouvir o Oriente. E por isso, ninguém se surpreenda se o 11 de setembro se repetir, com outros nomes, aqui e ali, e o mundo sucumba a um total estado de guerra. Resta-nos o corpo, o corpo como chave ou caminho conducente à fraternidade. Urge ouvir o corpo, de uns e de outros. Pois não haverá paz, trabalho, saúde, educação, oportunidade para todos até que exista um corpo algures, maltratado, espezinhado, violado, degolado.
Só haverá paz e justiça quando a todos for dado habitar num corpo são.